Título: Armadura líquida vai proteger carcereiros e soldados de ataques
Autor: Arndt, Michael
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Empresas, p. B3

Parece loucura, admite Robert R. Schiller: a idéia é a de você se proteger de balas, estilhaços e facas vestindo o equivalente a um traje molhado. Mas no começo do ano que vem o presidente e diretor operacional da Armor Holdings (AH) pretende vender o que ele descreve como "armadura líquida" - roupas construídas com camadas de fibras resistentes e polímeros fluidos - para guardas de penitenciárias. Até o fim de 2007 ele acredita que policiais e talvez soldados também estarão vestindo o novo equipamento de proteção da companhia. Para o mercado de produtos voltados ao sistema correcional, diz Schiller, "ele tem potencial para se tornar um produto inovador".

As versões atuais das armaduras corporais são compostas de 20 a 30 camadas de fibras sintéticas. E embora não haja dúvidas de que o número de soldados americanos mortos no Iraque seria muito maior sem elas, o equipamento é volumoso e ineficaz contra balas de alta velocidade, por exemplo, ou todos os fragmentos de bombas.

Mesmo enquanto a DuPont testava suas jaquetas originais de Kevlar - o nome dado pela empresa a um tipo de polímero - no começo da década de 1970, pesquisadores tentavam desenvolver tecidos mais leves e mais resistentes. Desde então, várias empresas têm examinado as possibilidades de um kit de alquimista repleto de materiais exóticos, que vão de uma teia de aranha clonada - uma maravilha de leveza e força - a folhas de nanotubos de carbono, que estão entre as estruturas mais duras existentes na natureza. Pesquisadores israelenses da ApNano Materials, em Nova York, anunciaram um peitoral de nanometais que seria cinco vezes mais duro que o aço.

O produto da Armor Holdings é diferente de tudo isso. Desenvolvido por Norman Wagner, um professor de engenharia química do Centro de Materiais Compostos da Universidade de Delaware, ele é uma mistura do polietileno glicol, um polímero encontrado em laxantes e outros produtos de consumo, e nanobits de sílica, ou areia purificada. Juntos, eles produzem um líquido que endurece instantaneamente, transformando-se num escudo quando atingido com violência por um objeto. O material volta ao estado líquido assim que a energia oriunda do projétil se dissipa.

Inicialmente, Wagner e seus colaboradores vislumbraram uma armadura que pudesse ser espalhada numa pessoa, quase como creme de amendoim num pedaço de pão, diz Eric Wetzel, um pesquisador do Laboratório de Pesquisas do Exército em Aberdeen. Mas em testes co-patrocinados pelo Laboratório do Exército, eles constataram que os materiais trabalhavam melhor quando pintados em Kevlar em casacos ultrafinos.

Ao manter as fibras apertadas como uma espécie de cola flexível, o composto se espalha melhor ao impacto de um golpe do que as fibras isoladas. "No passado, a busca era por filamentos mais e mais fortes", diz Wetzel. "Estamos tentando mudar a maneira como o tecido interage com o projétil."

O líquido tem outras vantagens. É mais leve que o Kevlar e outros tecidos amplamente usados. Isso significa que as novas roupas da Armor Holdings, nas quais a substância estaria "ensanduichada" entre as camadas de fibras que protegem das balas, poderão ser mais leves que as versões atuais, que pesam aproximadamente dois quilos ou mais.

A fabricação também será mais barata, diz Schiller. A companhia de Jacksonville, no Estado da Flórida, quer continuar vendendo versões mais básicas das roupas por algo entre US$ 500 e US$ 600.

Alguma desvantagem? Ninguém sabe ainda como o material vai se comportar depois de anos de uso.

A Armor Holdings, que comprou os direitos da descoberta de Wagner em fevereiro, consegue a maior parte de suas receitas anuais de US$ 1,64 bilhão com as vendas de blindagem para veículos do Exército americano.

Embora a armadura líquida pareça feita sob encomenda para soldados em combate ou policiais, a companhia tem como alvos iniciais as prisões, porque o tecido resiste a perfurações.

Isso significa que o equipamento pode proteger guardas de facadas, algo que até mesmo os melhores coletes a prova de balas não conseguem.