Título: Mercado nacional de livros encolhe 26% em dez anos
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Empresas, p. B6

O debate sobre como atrair mais leitores e, naturalmente, aumentar as vendas de livros não arrefeceu sexta-feira, mesmo sob o forte sol de Fortaleza. A apresentação de Fabio Godinho, diretor geral da Larousse do Brasil, no 34º Encontro de Editores e Livreiros, mostrou que ainda há muito a ser feito no setor, que encolheu 26% nos últimos dez anos.

Os números mostrados pelo executivo não são animadores. Em 2005, o mercado vendeu 270 milhões de exemplares, com receita de R$ 2,5 bilhões. Esse valor inclui títulos vendidos ao consumidor final e compras governamentais, que no ano passado representaram 38% das vendas totais. Desde 1995, as vendas no varejo caíram 23% e as compras feitas por governos, 31%. O governo é o maior comprador de livros no país. Em 2005, o Estado adquiriu 38% da produção do mercado. A fatia das obras gerais é de 31% de, a das obras religiosas, 19%; e os títulos técnico, científicos e profissionais (TCP) representaram 11% do total vendido.

Godinho disse que o consumo de livro está atrelado à renda da população, e disse estar animado com "os 7 milhões de brasileiros", que, com renda maior, alcançaram a classe média. Também elogiou "a universalização do ensino médio". Mas, segundo uma avaliação feita por ele, o preço do livro, entre 1999 e 2005, subiu mais do que a inflação, considerando-se o IPCA, medido pelo IBGE.

O mercado editorial brasileiro, observou, fixa preços iguais aos praticados em países mais ricos. O Índice de Preço Relativo do Livro (IPRL) no Brasil é de US$ 2,9, enquanto que na Alemanha esse mesmo índice é de US$ 2,7 e na Inglaterra de US$ 2,1. "O preço do livro no Brasil é para uma cultura com hábito de leitura alto. Temos que pensar nisso como mercado. O pib per capita no Brasil é limitado". O brasileiro não chega a ler dois livros por ano.

Godinho propõe algumas saídas. "O mercado tem um grande potencial, mas esbarra em entraves". Para ele, umas das necessidades vitais para o setor é ter "transparência". Ou seja, saber quanto cada editora vendeu, em quais livrarias, regiões, em quanto tempo. "Podemos ter um controle desses números, seja semanal, quinzenal ou mensal." O mercado, então, saberá se é necessário reimprimir livros, quantos exemplares estão em consignação e repensar suas ações - o balanço oficial do setor de 2005, produzido pela Câmara Brasileira do Livro, por exemplo, ainda não foi publicado.

"Pilha, sabão em pó e até cotonete. Todos essas categorias de produtos têm market share", diz Godinho. "Nós, como classe, precisamos disso." A partir do momento em que o mercado editorial tem esse tipo de informação, diz ele, fica mais fácil atrair investimento. "Precisamos oxigenar o mercado através de novos capitais."

Outra crítica feita pelo diretor geral da Larousse no Brasil foi sobre o grande número de associações representativas do setor, como CBL, Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Associação Nacional de Livrarias e Associação Nacional de Editores de Livros, entre outras. "Todas essas instituições têm ações positivas, mas precisamos de união. O problema é a descentralização dos esforços."

Essa última questão "esquentou" a platéia. Waldir da Silveira, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, disse que há uma "necessidade de federalizar as instituições para fortalecê-las" e fez uma crítica à CBL, que, segundo ele, trabalha muito focada no mercado paulistano. Oswaldo Siciliano, presidente da CBL, discordou da posição de Silveira, enfatizando a CBL como um órgão nacional.