Título: Tractebel tem R$ 2 bilhões à espera de licença e mercado
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Empresas, p. B8

O grupo franco-belga Tractebel, o maior gerador de energia privada do Brasil com 8% da capacidade instalada, tem investimentos de R$ 1,9 bilhão para sair da gaveta à espera de melhores condições de mercado e licenças de instalação. Além disso, afirma estar de olho em oportunidades decorrentes de privatizações.

O principal desembolso desses cerca de R$ 2 bilhões, R$ 1,1 bilhão, tem como destino a usina hidrelétrica de Estreito no Estado do Tocantins. Um dos maiores projetos de usina a ser construída no país, o empreendimento aguarda há mais de um ano a licença de instalação por parte do Ibama. "Temos a licença prévia, mas não vamos começar a obra sem a definitiva", afirma Manoel Arlindo Zaroni Torres, presidente da Tractebel, que detém 40% do empreendimento. O restante se divide pela Vale do Rio Doce, Alcoa e Camargo Corrêa.

Já o volume de recursos restante, R$ 830 milhões, será usado na construção da hidrelétrica São Salvador também em Tocantins, cuja construção teria iniciado caso a Tractebel tivesse vendido os 100% da capacidade instalada de 241 megawatts no leilão em julho. Caso a empresa consiga vender toda energia no próximo pregão, que acontece ainda neste ano, a usina sairá do papel e deverá estar pronta até 2009. O empreendimento de São Salvador é 100% Tractebel.

O grupo franco-belga, que no ano passado teve uma receita líquida de R$ 2,6 bilhões, anda atento aos futuros movimentos de privatizações. Perguntado se teria interesse na Companhia Energética de São Paulo (Cesp), caso estivesse à venda, o presidente da Tractebel disse: "Não poderia dizer que não". E afirmou que sua empresa tem boa geração de caixa.

Procurada, a Cesp informou por meio de sua assessoria de imprensa que não há nada respeito desse assunto. "Não há perspectivas de a Cesp ser privatizada até dezembro deste ano", diz a nota. A companhia faz parte do Plano Estadual de Desestatização (PED) do governo paulista desde 1996.

De fato, a Tractebel tem tido boa geração de caixa. O lucro antes de amortizações, juros, impostos e depreciações (lajida) cresceu de R$ 400 milhões no primeiro trimestre para R$ 416 milhões entre abril e junho deste ano. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o aumento foi de 14,6%.

O mesmo, contudo, não se pode falar do lucro líquido. Na última linha do balanço do segundo trimestre deste ano, a empresa registrou R$ 189 milhões, queda de 14% em relação aos R$ 220 milhões obtidos em igual período de 2005. Um dos motivos é a apreciação do real sobre o endividamento.