Título: Cresce risco de recessão nos EUA, diz economista
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Brasil, p. A3

Se o economista Nouriel Roubini estiver certo, países emergentes como o Brasil podem se preparar para tempos muito difíceis na virada do ano. Para o professor da Universidade de Nova York, as chances de uma recessão nos EUA no fim de 2006 são de 70% e a idéia de que o resto do mundo poderá se descolar dos efeitos de uma desaceleração nos EUA não passa de um "conto de fadas".

Nas análises publicadas em seu blog sobre economia global, Roubini aponta três fatores que aumentaram a possibilidade de uma recessão nos EUA no curto prazo. O primeiro é a retração no mercado imobiliário, que, ele acredita, será muito forte, impactando o investimento em residências, o consumo dos americanos e o nível de emprego, com efeito significativo sobre a economia. Os outros dois fatores são o risco de um aumento exagerado do petróleo e o comportamento da inflação.

Roubini também vê como insustentáveis os desequilíbrios externos e fiscais dos EUA. O país precisa de quase US$ 1 trilhão para financiar seu déficit externo, lembra Roubini, buraco que tem sido financiado principalmente pelas compras maciças de títulos do Tesouro americano pelos países asiáticos, como a China.

Para piorar o quadro, o presidente do Fed, o banco central americano, Ben Bernanke, ainda tem que conquistar credibilidade junto ao mercado, num momento em que há preocupações quanto à inflação. É um cenário parecido ao de 1987, quando Alan Greenspan assumiu o Fed e enfrentou a desconfiança dos investidores, diz ele. Para o pessimista Roubini, esses e outros fatores fazem com que haja o risco de que ocorra em 2006 uma crise financeira "séria e grave" como a que ocorreu em 1987. Em 19 de outubro daquele ano, o Dow Jones recuou nada menos que 22,6%, a maior queda registrada pelo indicador num só dia.

Ele também rechaça a idéia de que os países emergentes podem passar relativamente ilesos de uma desaceleração nos EUA. Segundo Roubini, uma recessão nos EUA reduziria fortemente o crescimento da China, diminuindo a demanda do país por commodities. Os EUA também passariam a comprar menos commodities e produtos manufaturados dos emergentes, lembra ele, acrescentando que a aversão global ao risco subiria. Por tudo isso, Roubini diz que, numa economia globalizada, "um espirro nos EUA continua a causar resfriado no resto do mundo". (SL)