Título: Analistas já prevêem PIB menor em 2007
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Brasil, p. A3

Depois de quatro anos de tranqüilidade, a economia brasileira deve enfrentar um cenário mais complicado a partir de 2007. A principal fonte de risco é o cenário internacional, que tende a ser menos favorável, devido à desaceleração da economia americana. A demanda global por produtos brasileiros deve diminuir e a aversão global ao risco tende a crescer, o que pode se traduzir num câmbio um pouco mais pressionado por aqui e, por tabela, em mais inflação. O resultado tende a ser um crescimento um pouco menor.

O WestLB prevê uma expansão do Brasil de 3,2% em 2007, abaixo dos 3,7% previstos para este ano. A boa notícia é que o país está hoje mais preparado para uma piora no cenário internacional, por conta da redução da vulnerabilidade externa nos últimos anos.

O diretor de pesquisa para a América Latina do WestLB, Ricardo Amorim, lembra que os EUA já estão em desaceleração, um movimento que deve continuar até 2007. Afinal, os mais recentes aumentos dos juros, que levaram a taxa básica nos EUA para 5,25% ao ano, ainda não impactaram totalmente a economia, o que costuma levar de seis a nove meses. O WestLB prevê crescimento de 3,3% para o PIB americano em 2006, e de 2,5% em 2007. Os números mais recentes do mercado imobiliário são um sinal da perda de fôlego dos EUA, como ressalta o economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan. Em julho, a construção de novas residências caiu 2,5%. A produção industrial também deu sinais de crescimento mais moderado em julho.

A questão é saber se a desaceleração da economia americana "será suficiente para arrefecer as pressões inflacionárias, mas não forte a ponto de abalar a convicção na continuidade do seu ciclo de crescimento", como diz Suzigan. Em resumo, se haverá uma redução mais tranqüila do ritmo de expansão ou se haverá recessão. Nos dois casos, o cenário será menos benigno para o Brasil. Se houver uma desaceleração ordenada e suave, ele prevê um crescimento de 3,4% para o Brasil em 2007, abaixo de sua estimativa de 3,7% para este ano.

Com a desaceleração dos EUA, a tendência é que a demanda por produtos brasileiros diminua, os preços das commodities recuem e a liquidez internacional não seja tão abundante, diz Amorim. O superávit comercial, que deve ficar em US$ 41 bilhões neste ano, deve encolher para US$ 36 bilhões no ano que vem, estima ele. Nesse cenário, ele avalia que o câmbio se desvalorizaria um pouco por aqui, o que causaria mais inflação e impediria a redução mais forte dos juros. Como resultado, uma expansão mais modesta do PIB em 2007, de 3,2%, prevê.

Mas há o temor de que a desaceleração americana não seja ordenada e tranqüila, como nota Suzigan. Para ele, há o risco de que o ritmo de crescimento dos EUA nos meses que restam de 2006 seja mais robusto do que o esperado, o que poderia levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a voltar a elevar os juros. Outro fator que poderia deflagrar o processo seria nova escalada do preço do petróleo, diz ele. Com recessão nos EUA, o fluxo comercial e o financeiro encolheriam mais, o que levaria o dólar a ficar em R$ 2,55, na média, em 2007, acima dos R$ 2,31esperados no cenário de desaceleração moderada dos EUA. Nesse quadro, a inflação seria mais alta - o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saltaria de 4,1% em 2006 para 5,4% em 2007 -, e os juros teriam até mesmo que subir um pouco. A conseqüência? Um crescimento de 2,4% em 2007.

Essa visão mais cautelosa, porém, não é consensual. O vice-presidente de mercados emergentes do JP Morgan, Dráusio Giacomelli, diz que os EUA vão de fato se desacelerar em 2007, mas acredita que o processo será mais suave. O banco projeta uma expansão americana de 3,4% em 2006 e de 3,1% em 2007, mesmo acreditando que o Fed vai elevar os juros para 6% no ano que vem. "A avaliação é que o aumento dos juros não vai provocar grande contração de liquidez internacional, uma vez que será a contrapartida de um crescimento robusto e de uma inflação ainda forte, não devendo resultar num processo recessivo."

Giacomelli aponta outro o fator que torna o cenário externo menos preocupante para o Brasil: a perspectiva de continuidade do crescimento da China, na casa de 9%. Segundo ele, a demanda chinesa tende a manter elevados os preços das commodities no ano que vem, ainda que a economia americana desacelere mais do que espera o JP Morgan. Por isso, estima que o Brasil deve crescer em 2007 os mesmos 3,5% previstos para este ano.

Ele lembra ainda que as contas externas brasileiras estão muito mais sólidas atualmente. O país tem superávit comercial robusto, na casa de US$ 40 bilhões, e está reduzindo a dívida externa, o que torna o país bem menos vulnerável às turbulências externas.

Além do cenário externo, os analistas citam o front fiscal como uma possível fonte de problemas em 2007. O problema é que o governo contratou despesas permanentes elevadas neste ano, devido ao aumento do salário mínimo e ao reajuste aos funcionários públicos, e as previsões de arrecadação parecem superestimadas.

Para Suzigan, será inevitável haver mais austeridade em 2007. Ele avalia que será necessário cortar gastos e conceder reajustes mais modestos para o salário mínimo. Com isso, a política fiscal deverá deixar de ser um impulso a mais para a atividade econômica, como foi em 2006. Em compensação, o aperto fiscal poderia abrir espaço para quedas mais fortes dos juros.