Título: Presidente diz que eleitor punirá adversários
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Política, p. A8

Diante do recrudescimento das críticas em torno de sua candidatura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não responderá às provocações feitas por seus adversários e manterá a linha propositiva de sua campanha, mas deixou claro que não se omitirá frente aos ataques. Em posição confortável nas pesquisas de opinião, que indicam sua vitória no primeiro turno, Lula analisou que o candidato que apelar para ataques sairá prejudicado.

Equilibrando em seu discurso um tom firme contra as críticas da oposição, mas sem polemizar nenhum tema, o presidente e candidato do PT à reeleição disse ontem, em comício em Osasco (SP), que o povo responderá nas urnas aos ataques que ele tem sofrido durante todo o governo. "Podem provocar, baixar o nível da campanha o quanto quiserem, colocar quantas denúncias quiserem na televisão. Não moverei uma palha contra eles porque vocês (povo) moverão um paiol inteiro contra eles. "

Lula lembrou da ameaça feita no plenário pelo senador Arthur Virgílio (PSDB- AM), de bater nele, e disse que, nem mesmo naquela ocasião, pensou em discutir. "Não respondi e não retruquei mesmo aqueles que ousaram dizer que iam me bater. Sabia que o povo brasileiro iria dar a resposta que eu deveria dar", disse. Como exemplo da resposta, o presidente ironizou o baixo desempenho de Virgílio na disputa pelo governo do Amazonas, que aparece com 3% das intenções de voto. No Estado, Lula tem 72%.

O tom do discurso de Lula foi o mesmo de seus apoiadores. O presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), criticou o tratamento da oposição à administração federal. "Nunca vi ninguém ser tratado com tanto ódio, preconceito e discriminação como tem sido o atual governo". O presidente do partido, Ricardo Berzoini, lembrou da campanha "do medo" feita pela oposição em 2002 e reforçou que o partido não cederá aos ataques.

Ao lado do senador Aloizio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo, Lula criticou a gestão do PSDB nas áreas de educação e segurança e reclamou de declarações feitas pelo tucano José Serra, adversário de Mercadante. Na semana passada, em entrevista ao telejornal SPTV, o tucano relacionou o fraco desempenho das escolas paulistas aos migrantes recebidos pelo Estado. "Não posso admitir que ainda possa existir gente que vai a um programa de televisão e vomita preconceito contra o povo nordestino". Lula também disse que Serra, caso eleito, pode não ficar até o fim do mandato. "Se vocês elegerem alguém que já está pensando em 2010, ele pode não governar direito".

No discurso de ontem em Osasco, reduto eleitoral do ex-deputado João Paulo Cunha, presidente enfrentou o constrangimento de "esconder" o ex-deputado envolvido no escândalo do mensalão. No fundo do palco, atrás dos candidatos a deputado, João Paulo assistiu parte do comício e não foi citado por Lula. Depois de agradecer a presença dos ministros Tarso Genro (Coordenação Política) e Orlando Silva (Esportes), o presidente alegou que não queria "fazer propaganda" dos candidatos a deputado porque eram muitos. A situação piorou quando parte das seis mil pessoas - segundo a organização - que assistiram ao comício entoaram o nome de João Paulo. " Se tivesse tanta gente gritando assim meu nome já estava eleito", desconversou Lula, sem citá-lo.