Título: Alckmin reafirma campanha sem ataques, mas eleva tom do discurso
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Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Política, p. A9

Algumas horas depois de garantir, em Parnaíba (PI), que persistiria em sua campanha "propositiva" e não atacaria o governo e seu maior adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, já em São Paulo, aumentou alguns tons do seu discurso. Ele afirmou que Lula deu as costas "para a Justiça e para os bons costumes" e que usa "salto 15", ao dar como certa a sua reeleição para a Presidência.

"O Lula deu às costas para o povo, para a Justiça e para os bons costumes", afirmou Alckmin. "Trabalhou ao lado dos Waldomiros, dos mensalões, dos sanguessugas, dos valeriodutos. O Brasil não vai para a frente com essa praga de corrupção." O tucano comentou as declarações dadas pelo presidente na sexta-feira, após a divulgação da pesquisa do Ibope, já considerando-se reeleito. "Foi uma declaração arrogante, que subestima a inteligência do eleitor", declarou.

Ao comentar da última pesquisa eleitoral, minimizou seus resultados - nas quais manteve a mesma distância em relação a Lula, que ganharia no primeiro turno - Alckmin tentou mostrar otimismo: "As diferenças são mínimas e a campanha nem começou. É dois ou três pontinhos e já está no segundo turno", afirmou. "É evidente que (fora de São Paulo) não me conhecem, mas a mensagem está sendo muito bem recebida. Você já percebe nas ruas uma grande mudança, as pessoas já começam a querer conhecer, saber o que fez."

O candidato do PSDB esteve ontem num almoço promovido por devotos da Irmandade de São Benedito, na Casa Verde, bairro da zona norte da capital. Ele persignou-se diante da imagem do santo, comeu feijoada acompanhada de água, dançou samba e cumprimentou os presentes.

De manhã, fez um comício para 3 mil pessoas em Parnaíba, no Piauí. Lá, garantiu que não pretendia ser mais agressivo contra Lula. "Não vamos falar mal", disse. "Vamos falar do futuro, o povo sabe de toda a corrupção que aconteceu nos quatro anos. Fui vereador, prefeito, deputado estadual e federal, por duas vezes fui vice-governador e fui eleito com mais de 12 milhões de votos. Sempre fiz campanha olhando nos olhos das pessoas, sem fazer bravata, mostrando que a política é uma coisa séria", disse.

No discurso, a menção à corrupção foi relacionada ao desempenho do governo. "Precisamos extirpar a corrupção que foi institucionalizada pelo PT, que contaminou as relações institucionais e comprometeu a eficiência do governo. Queremos um governo mais enxuto e bem gerido, se preocupando com mais progresso e mais renda. Nossa missão é gerar trabalho e mais emprego."

Afirmou também que o PT vai perder mais da metade da bancada nessas eleições e não terá condições de governabilidade. "Um outro mandato dos petistas vai ser perda de tempo e atraso para o Brasil. Este governo mal conseguiu terminar e em um novo mandato o Brasil vai perder tempo. O Brasil precisa ser líder, baixar juros, ganhar tempo, fazer investimentos."

Durante o comício, o coordenador da campanha, senador Heráclito Fortes (PFL-PI), presenteou o senador Mão Santa (PMDB-PI) com um boneco do "Pitóquio", com a aparência de Lula e nariz grande do Pinóquio. No final, o candidato disse que não usaria o boneco e reafirmou a intenção de manter a campanha "propositiva".