Título: Derrotadas pela Delta podem assumir PAC
Autor: Exman , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2012, Política, p. A8

O governo Dilma Rousseff já se prepara para substituir a Delta Construções na execução das obras de infraestrutura tocadas pela empreiteira. A ideia do Executivo é evitar que os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e outros empreendimentos estratégicos sejam paralisados.

Autoridades do governo trabalham com um cenário segundo o qual a Controladoria-Geral da União (CGU) logo concluirá o processo administrativo que deve declarar a "inidoneidade" da construtora, o que impedirá a empresa de fechar contratos com a administração pública federal. Assim que isso ocorrer, o governo pretende convocar os segundos colocados nas licitações vencidas pela Delta. Caso eles se recusem a assumir as obras, o Executivo realizará novas concorrências no menor prazo possível. A Delta é uma das principais construtoras responsáveis pela execução do PAC.

O governo observa à distância os rumores de que o controle da Delta, hoje nas mãos de Fernando Cavendish, poderá ser vendido. Auxiliares da presidente Dilma Rousseff acreditam que o desfecho da transação e a conclusão de eventuais operações de crédito voltadas a garantir o fluxo de caixa necessário à manutenção dos trabalhos da empreiteira poderão demorar mais que a substituição da construtora na execução das obras. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, chegou inclusive a dizer que a solvência da Delta não é um problema do governo. Procurada, a construtora afirmou por meio de nota que "não irá se pronunciar sobre o assunto".

A construtora é acusada de integrar o grupo chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos. Carlinhos Cachoeira, como é conhecido, foi preso pela Polícia Federal sob a acusação de comandar um suposto esquema ilegal de jogos de azar com ligações no setor público e na iniciativa privada. As investigações da PF levaram à criação, no Congresso, de uma comissão parlamentar mista de inquérito para apurar os fatos.

A construtora nega o envolvimento com Cachoeira, sustentando que o ex-diretor da empresa no Centro-Oeste que foi flagrado pela Polícia Federal mantendo contatos com o empresário goiano agia sem o consentimento da sede da companhia. Mesmo assim, as relações da Delta com o governo federal são os principais alvos da oposição na CPI do Cachoeira. Segundo o plano de trabalho do relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu deve ocorrer no dia 29.

Por enquanto, o Palácio do Planalto mantém distância da CPI. Para evitar surpresas, entretanto, a presidente Dilma Rousseff pediu a auditoria da CGU e buscou se informar das investigações em andamento contra a construtora no órgão de controle e na Polícia Federal.

A portaria da CGU que instaurou o processo administrativo contra a Delta foi editada no dia 23, depois que o órgão decidiu investigar "os atos ilícitos supostamente por ela praticados em suas relações com a administração pública federal - especialmente com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)". A Delta também enfrenta processos de auditoria em alguns Estados onde atua. De acordo com levantamento feito pela organização não governamental Contas Abertas, além de ser uma das maiores empresas contratadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento, a Delta possui contratos em 21 Estados e no Distrito Federal.