Título: Violência não é uma solução viável
Autor: Fassino. Piero e Støre, Jonas Gahr
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Opinião, p. A13
Finalmente, o Conselho de Segurança das Nações Unidas chegou a um acordo unânime de resolução para por um fim à crise no Líbano. Agora, a maior prioridade deve ser um cessar-fogo completo e imediato para acabar com o sofrimento de civis indefesos e abrir caminho para a paz. A comunidade internacional precisa ser guiada nos seus atos por uma convicção comum de que a violência jamais será uma solução viável.
Nós, os autores deste artigo, assim como a organização que representamos, a Internacional Socialista, sempre defendemos o direito de Israel de existir e de se defender. Desejamos ver os cidadãos israelenses vivendo em paz e segurança ao lado de todos os seus vizinhos. Temos condenado constantemente os ataques que tomam como alvos israelenses inocentes.
Israel afirma que suas ações em Gaza e no Líbano têm a intenção de resguardar a sua própria segurança. O uso indiscriminado da força e a ocupação continuada, porém, jamais conferirão a Israel uma segurança duradoura. A reação à agressão inicial do Hezbollah, bem como a reação militar de Israel em Gaza, é desproporcional. Serão necessárias várias gerações para restaurar um Líbano devastado, não só material, como também psicologicamente. O Hezbollah, que alega estar lutando pela independência e soberania libanesas, também tem parte na responsabilidade pela agressão inaceitável, colocando em risco as vidas de milhares de israelenses e libaneses inocentes.
Estamos convencidos de que a maneira como estas políticas estão sendo levadas a cabo só aprofundarão a desconfiança, acirrarão a polarização e arraigarão o ódio entre vizinhos que devem aprender a viver uns com os outros. Uma solução militar não é viável. A guerra está fortalecendo o poder dos que consideram o terror a única arma eficaz, criando, assim, um terreno fértil para mais violência, insegurança e extremismo em todo o Oriente Médio. Com os moderados marginalizados, o efeito de longo prazo será o de ter minados os esforços de democratização na região.
É preciso lançar iniciativas inovadoras e ousadas para a paz, como alternativa para a lógica da força militar. Isto já aconteceu antes. A Guerra do Golfo conduziu à Conferência de Paz de Madri, em 1991, e aos subseqüentes acordos de Oslo entre a OLP e Israel, em 1993.
Esta crise, também, poderá ser um condutor para uma solução política de longo prazo envolvendo todas as partes no Oriente Médio. As estratégias gradualistas e incoerentes atuais não romperão o ciclo de violência. Além de assumirem uma iniciativa coletiva para encerrar a guerra no Líbano e em Gaza, participantes importantes como o "quarteto" - A ONU, os Estados Unidos, a União Européia e a Rússia - precisam desenvolver uma estrutura de segurança abrangente para o Oriente Médio. A comunidade internacional deve exigir o início imediato de negociações voltadas para a criação de um Estado palestino e pressionar por negociações diretas em torno de um acordo de paz entre Israel e Síria.
-------------------------------------------------------------------------------- A guerra está fortalecendo o poder dos que tem o terror como a única arma e criando terreno fértil para mais violência e extremismo no Oriente Médio --------------------------------------------------------------------------------
Se a comunidade internacional quiser manter a sua credibilidade, será necessário tomar uma iniciativa regional para segurança coletiva - uma Madri II. Isso pressupõe o envolvimento de todas as partes, incluindo Síria e Irã, bem como todos os grupos políticos e religiosos. Uma estratégia de isolamento resultou numa perigosa aliança de conveniência entre forças extremistas excluídas dos processos políticos e das estruturas de poder. Enquanto os principais protagonistas não assumirem plenamente as soluções locais, a paz jamais será sustentável.
Se nutrimos a esperança de barrar o extremismo violento, precisamos envolver grupos religiosos e militantes e enfrentar as causas que estão na raiz da violência. A OLP e as organizações israelenses militantes ativas à época da criação de Israel se afastaram da violência assim que a comunidade internacional os envolveu. Da mesma forma, organizações influentes como o Hamas, o legítimo vencedor das eleições palestinas, não podem ser eliminadas pela força militar, por mais poderosa que ela seja, nem exorcizadas por decreto.
Os grupos radicalizados, por sua vez, precisam renunciar à violência e aceitar princípios e leis internacionais. Causar perda de vidas não contribui para o bem-estar presente ou futuro dos povos da região. Atualmente não há nenhuma garantia de que uma trégua política com o Hamas ou com o Hezbollah poderá resultar numa renúncia às posições absolutistas destes grupos. Contudo, pode haver um processo diplomático com direitos e obrigações. Para assegurar uma paz duradoura, o mais importante é desenvolver mecanismos políticos que dêem espaço para a moderação e a democracia.
Portanto, nós precisamos apoiar alternativas políticas ao extremismo violento. A iniciativa do presidente palestino Mahmoud Abbas, de unir a liderança palestina, poderá levar a uma maior moderação por parte do Hamas e criar perspectivas reais para a negociação de uma solução de dois Estados. Se este esforço tiver êxito, a comunidade internacional deve cooperar pronta e plenamente com a Autoridade Palestina.
Nosso apelo é pela diplomacia preventiva, ao contrário dos ataques antecipados. Essa política de inclusão, em vez de exclusão, está baseada no pragmatismo político e na crença de que essa carnificina pode e deve parar. Para evitar que pessoas inocentes paguem com suas vidas, os líderes do mundo precisam agir rápida e corajosamente. A Internacional Socialista está comprometida a se empenhar arduamente com suas parceiras na região com o objetivo de tornar a paz no Oriente Médio uma realidade.
Piero Fassino é secretário-geral do Partido dos Democratas da Esquerda da Itália.
Jonas Gahr Støre é ministro das Relações Exteriores da Noruega.
George Papandreou é o presidente da Internacional Socialista e do Partido Socialista Pan-Helênico (PASOK). © Project Syndicate 2006. www.project-syndicate.org