Título: Dilma persegue estratégia para dar uma marca ao seu mandato
Autor: Exman , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2012, Política, p. A6
A mudança nas regras que regem a remuneração da caderneta de poupança anunciada ontem pelo governo foi o arremate de uma campanha iniciada em abril pela presidente Dilma Rousseff contra os altos juros e spreads bancários - a diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e as taxas de juros cobradas dos tomadores de crédito. A escalada verbal de Dilma tem como objetivo final promover uma redução do custo do capital para consumidores e empresários, o que poderá lhe render uma nova marca de governo e um poderoso capital político capaz de se sobrepor às bandeiras de extinção da miséria e do combate à corrupção na eleição de 2014.
"Era necessário enfrentar o problema da poupança. Do contrário, não tinha mais como reduzir a Selic", explicou um influente líder de um partido governista. "Uma pessoa que conseguir reduzir a Selic e levar essa queda para o juro na ponta conseguirá um tento louvável."
Agora, o Executivo terá o desafio de passar a mensagem ao eleitorado de que as novas regras da poupança são necessárias para se alcançar um fim desejado pela maior parte da população, a redução da taxa de juros. À oposição, por outro lado, restará num primeiro momento a tarefa de monitorar a eficácia da decisão, para só então eventualmente passar a criticá-la. "Apoiamos ações que tenham por objetivo reduzir as taxas de juros. Esse tem que ser um objetivo de todos", afirmou o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).
Os ataques públicos da presidente contra os juros e os spreads bancários tiveram início no dia 3 de abril, quando Dilma discursou na solenidade em que foram anunciadas novas medidas de incentivo à indústria nacional. "Não estou falando nem fazendo considerações políticas: estou dizendo que tecnicamente é de difícil explicação os níveis de spread no Brasil", afirmou Dilma na ocasião. "Queremos, sim, juros e spreads menores no Brasil. Com isso, as empresas vão poder investir na expansão da produção, na modernização de seu processo produtivo, na geração e incorporação de inovações."
O mesmo tom foi adotado em declarações e entrevistas concedidas pela presidente nas semanas seguintes. Após destacar que seu governo tem "uma política fiscal responsável", um processo de redução da Selic "responsável" e a inflação sob controle, Dilma voltava a questionar os motivos de as taxas de juros no Brasil não convergirem para os patamares verificados no exterior.
No entanto, o ápice do esforço da presidente ocorreu no dia 1º de maio, quando Dilma reforçou a bandeira em discurso transmitido em horário nobre em cadeia nacional de rádio e televisão, já naquele momento uma preparação para mexer na caderneta de poupança. A produção do programa contou com o auxílio de João Santana, marqueteiro da campanha de Dilma à Presidência da República que presta serviços ao governo, como também sairam de assessoria política e publicitária as reuniões de ontem com políticos, sindicalistas e empresários. "É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. O setor financeiro não tem como explicar essa lógica perversa aos brasileiros", disse.
Apesar das palavras duras, auxiliares da presidente tentam assegurar que o governo não promove uma guerra aos bancos privados, mas tenta fazer com que o Estado induza o comportamento dos diversos setores da economia para elevar a competitividade do país na cena internacional. Com isso a presidente cunha sua marca no primeiro mandato e constrói instrumentos para a campanha da reeleição.