Título: Mercado financeiro restringe o risco eleitoral a 27 pontos básicos
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2006, Finanças, p. C2

O risco-Brasil ficaria 27 pontos básicos mais alto no final deste ano se Lula vencer Alckmin nas eleições presidenciais de outubro. Esse é o resultado de pesquisa informal feita pelo economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, junto a seus colegas no mercado.

Ele enviou 30 questionários para economistas de bancos e recebeu a resposta de 19. Os 27 pontos básicos foram a média desses resultados.

Ontem, o risco-Brasil estava a 217 pontos básicos. Seria uma alta de 12%, portanto. "A diferença é irrelevante, é quase nada", afirmou Barros em reunião-almoço, promovida pela Câmara Brasil-Alemanha, no Clube Transatlântico, em São Paulo. O mercado, no seu entender, não vê risco de surpresa na gestão dos dois principais candidatos. Para ele, o cenário eleitoral brasileiro "é um privilégio" em toda a região da América Latina, onde os temores de políticas "irresponsáveis e populistas" não existem mais. Segundo Octavio de Barros, a disputa entre a política macroeconômica da esquerda ou da direita acabou, e prevalece a política do "bom senso".

O economista vê entre os dois principais candidatos um "consenso inconfessável" em momentos pré-eleitorais sobre a agenda de reformas necessárias. "É preciso, acima de tudo, estimular a oferta, sem o que estamos fadados à volta da inflação ou ao crescimento econômico medíocre", afirma ele. Para Octavio de Barros, é necessário que o próximo governo sinalize que vai realizar reformas que estimulem o investimento produtivo e a oferta de produtos na economia. Uma dessas reformas seria a reforma trabalhista, que reduziria o custo da mão-de-obra para o empresário.

O economista faz coro com o deputado Delfim Neto e o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao propor um cronograma de redução nos gastos públicos correntes. "Seria uma forma de sinalizar que o governo está fazendo uma reforma fiscal, está fazendo alguma coisa para reduzir a carga tributária, um grande empecilho ao investimento privado hoje", diz. Ele diz que é necessário "mexer na estrutura rígida de gastos públicos" e reduzir o tamanho do Estado na economia, para dar espaço ao setor privado e liberar recursos para investimentos em educação e infra-estrutura. "A falta de infra-estrutura encarece os produtos", afirmou. Propôs também a desvinculação dos benefícios da Previdência ao salário mínimo.

Essas mudanças seriam fundamentais para possibilitar a redução dos juros básicos no país, no seu entender. Em seu artigo "Fear of easing" (medo do afrouxamento monetário) - uma alusão ao famoso artigo de 2000 de Guillhermo Calvo (ex-FMI) e Carmen Reinhart "Fear of floating" (medo do câmbio flutuante) -, Octavio de Barros defende que o Banco Central brasileiro tem medo de cortar juros, pois a demanda responde mais rapidamente do que a oferta a esse corte, podendo trazer a inflação de volta. "O BC não vai dar mole à inflação e sem as reformas teremos crescimento econômico medíocre", afirmou o economista.

Por enquanto, as reformas que os últimos governos promoveram tiveram mais um caráter de redistribuição de renda, no seu entender. Ele considerou bem-vindos a ampliação no crédito à pessoa física por meio do crédito consignado, o programa Bolsa Família, o aumento do salário mínimo e do funcionalismo público, o que chamou de política de "wealthfare state tupiniquim". Mas lembrou que até para manter os programas sociais, uma reforma fiscal ampla é necessária.