Título: Inadimplência representa maior custo
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2006, Finanças, p. C10

Os custos de inadimplência explicam a maior parte dos altos "spreads" bancários vigentes no país, segundo o diagnóstico anual do Banco Central sobre o mercado de crédito, que acaba de ser divulgado. Pelos seus cálculos, essa despesa representa 33,97% da diferença entre os custos de captação dos bancos e as taxas cobradas dos clientes.

Depois da inadimplência, o que mais pesa são os custos administrativos, que respondem por 21,56% do "spread". O lucro dos bancos, tecnicamente chamado de resíduo líquido, representa 19,8% do "spread".

Desde 1999, quando o BC anunciou seu projeto de redução do "spread" bancário, são divulgados relatórios anuais que aprofundam a discussão sobre o por que os juros bancários são tão elevados no país. Nos primeiros anos dos projetos, os relatórios eram divulgados mais rapidamente, mas agora só são distribuídos depois que seus textos são submetidos a debates por especialistas. O diagnóstico recém-divulgado é do ano de 2005, e usa a base estatística de 2004, quando o "spread" equivalia a 27,2 pontos percentuais.

Os números, porém, não têm mostrado grande variação ao longo do tempo. A inadimplência, por exemplo, tem se mantido sempre acima de 31% nos três últimos anos. O peso dos lucros dos bancos tem girado em torno de 20% nos últimos anos.

No estudo, o BC não se refere explicitamente aos lucros dos bancos. Na verdade, o percentual é tecnicamente tratado como se fosse um "resíduo". Ou seja, o BC procura extrair todos os demais custos dos empréstimos - incluindo inadimplência, compulsórios, impostos etc. - e o que sobra, teoricamente, é o lucro dos bancos. Mas é possível que, dentro desse número, estejam outros custos. É o caso dos encargos representados pelos subsídios cruzados, que, neste ano, foram calculados pela primeira vez, com os resultados referentes a 2001. Naquele ano, após feitos todos os ajustes, o resíduo fica em 16,3%.

Outros custos que explicam os "spreads" bancários em 2004 são os compulsórios (7%), os tributos indiretos (8,11%), os tributos diretos (9,3%) e as contribuições ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC, com peso de 0,26%).

O elevado peso da inadimplência nos "spreads" ajuda a entender por que, desde que iniciou seu projeto, o BC vem dando grande ênfase às propostas que visam a reforçar os diretos dos credores. É o caso, por exemplo, da extensão da alienação fiduciária para os financiamentos habitacionais, da nova Lei de Falências e da criação do crédito consignado em folha de salário.

Os dados do BC também reconhecem que existe alguma gordura na margem dos bancos, que pode ser queimada com a ampliação da concorrência. O diagnóstico é que os clientes têm dificuldades de buscar os juros mais baixos no mercado porque os bancos rejeitam crédito a quem não conhecem bem. Entre as medidas já colocadas em prática pelo BC está a portabilidade dos dados cadastrais, que, porém, é pouco usada pelos clientes. (AR)