Título: BC contesta dados que apontam país como vilão do juro
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2006, Finanças, p. C10

O Banco Central divulgou, em seu relatório anual que examina por que os juros bancários são altos no Brasil, um texto que questiona estudos que apontam o Brasil como o campeão mundial nos "spreads" bancários.

"Domina a visão de que o 'spread' bancário brasileiro não é só o maior do mundo, mas também se situa em um patamar muito superior aos demais países", afirma o texto, de autoria dos economistas Marcio Nakane e Ana Carla Abrão Costa, ambos do Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) do BC. "Mas não é exatamente esse o retrato que surge a partir de uma análise mais minuciosa."

Os economistas fazem cálculos usando metodologias alternativas, uma das quais chega à conclusão de que o "spread" brasileiro é inferior ao vigente na Suíça e no Japão.

Eles sustentam que há diferenças entre as metodologias de cálculo dos "spreads" nos diferentes países incluídos em rankings. No caso do Brasil, por exemplo, o "spread" se refere apenas à diferença entre os custos de captação e de aplicação dos empréstimos livres. Ficam de fora, portanto, os empréstimos direcionados e os repasses do BNDES, que têm juros mais baixos. Se essas taxas fossem consideradas, o "spread" brasileiro cairia dos atuais 28,5 para 20 pontos percentuais.

Outra diferença importante, dizem, é que no Brasil são incluídas nos "spreads" operações de todos os tipos de risco, tanto de grandes clientes, com risco menor, quanto os menores. Outros países divulgam apenas o "spread" de parte do mercado, dos clientes com menor risco.

O estudo dos dois economistas do BC refaz o ranking internacional dos "spreads" bancários, usando como parâmetro de comparação um instrumento conhecido como índice de Lerner. São apresentadas três tabelas, para os anos entre 2002 e 2004, usando como matéria-prima rankings elaborados pelo International Financial Statatistics (IFS, Estatísticas Financeiras Internacionais) do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A conclusão é que, em 2002, o Brasil era o terceiro país com maior juros - atrás de Zimbábue e Angola - e se torna o 37º maior juros, entre 72 países. Em 2003, passa do 2º lugar para o 19º, mais bem posicionado que Japão e Suíça. Em 2004, deixa a 2ª posição para ocupar a 16ª, ficando melhor do que Suíça, Alemanha e Estados Unidos. "O Brasil deixa de liderar os rankings, ao contrário do que acontece quando se utilizam as metodologias baseadas na diferença entre as taxas de empréstimo e captação."

Os economistas dizem que o ranking que construíram não significa que o "spread" brasileiros é um problema menor. "Em termos absolutos ele é elevado e merecedor de esforços constantes no sentido da sua redução", afirmam. "Só assim se conseguirá mais aprofundamento financeiro e mais eficiência na intermediação bancária no Brasil." (AR)