Título: CPI deve extrapolar o Centro-Oeste
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2012, Política, p. A8
Minoritária na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso criada para apurar a relação de agentes públicos e privados com o esquema de exploração ilegal de jogos de azar de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a oposição avalia que conseguiu vitórias importantes no início dos trabalhos. Uma delas foi o fato de o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), pressionado, ter admitido que a investigação das ligações da empreiteira Delta com o esquema de Cachoeira não ficará restrita à sua atuação na região Centro-Oeste, como dava a entender a proposta do petista. Outra vitória foi ter conseguido antecipar, em dois dias, o depoimento de Cachoeira, marcado para 15 de maio.
Apesar do forte desequilíbrio numérico (25 governistas e 7 oposicionistas), a oposição avalia que a base governista não poderá impedir a convocação dos governadores Agnello Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Sérgio Cabral (PMDB), do Rio, se também for convocado Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Assim como apostam na convocação do dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, numa segunda fase dos trabalhos, dependendo dos fatos que forem revelados ao longo das investigações.
Parlamentares da oposição criticaram o cronograma e a lista de convocações para a primeira fase da CPI, apresentada pelo relator e aprovada pelo colegiado na quarta-feira. Por outro lado, contabilizam como ponto positivo o fato de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ter se negado a comparecer. Na reunião, o senador Fernando Collor (PTB-AL) ficou praticamente sozinho na insistência em relação ao depoimento do procurador-geral. O PT gostaria de questionar Gurgel sobre a demora na abertura de inquérito contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), mas seus parlamentares não defenderam essa posição abertamente.
Os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), líder da bancada tucana, e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), consideram que a pressão sobre o relator levou-o a admitir à CPI que as investigações sobre as relações da empreiteira Delta nos Estados do Centro-Oeste são apenas o ponto de partida, já que a investigação da Polícia Federal aponta as relações de Cachoeira principalmente com o Legislativo e dos governos estaduais da região.
Para Randolfe, a pressão da oposição levou o governo a "avançar" em relação à Delta. "Eles tinham a clara intenção de minimizar em relação à Delta. Mas teve que admitir que todas as ligações da Delta estão sujeitas à investigação e que o Centro-Oeste é apenas ponto de partida", diz o senador do PSOL. Para ele, a "omissão" do plano de trabalho do relator, que foi aprovado pela CPI, é "erro grave" do início dos trabalhos.
Embora não conste do texto a proposta de ouvir os governadores, a oposição avalia que o relator admite essa possibilidade, ao prever audiência pública para debater as relações de Cachoeira com governos estaduais. O cálculo da oposição é que nenhuma maioria é mais forte do que fatos - e a expectativa é que eles apareçam cada vez mais.
Para tentar forçar a convocação de Agnello e Cabral, a oposição propõe que os requerimentos relativos a ambos sejam votados junto com o da convocação de Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás. "A votação dos requerimentos em bloco evita que a CPI tenha dois pesos e duas medidas", afirma Dias.
O presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), porém, criticou o começo da CPI. "Ao que tudo indica, o PT quer fazer uma CPI regional, com medo que as investigações cheguem ao governo federal, em especial ao Dnit e ao PAC".