Título: Sadala nega manter negócios com Delta
Autor: Moura , Paola de
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2012, Política, p. A10

O empresário Georges Sadala Rahin defendeu-se ontem das acusações feitas na quarta-feira pelo ex-deputado Fernando Gabeira (PV) de usar empresas da qual é sócio para intermediar negócios das empreiteiras com o Estado do Rio. Sadala informa que a empresa Lavoro Factoring, da qual tem 20% das ações, atua no mercado desde 1999, nunca comprou recebíveis de empreiteiras e realiza negócios apenas com empresas de médio e pequeno porte. Além disso, acrescenta que apesar de ser amigo do empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, a Lavoro e outras empresas das quais é sócio nunca realizaram negócios com a empreiteira.

Sadala enviou nota com respostas aos questionamentos do Valor, na qual esclarece que "a legislação não permite que o Estado pague para terceiros, tampouco para uma factoring. Este pagamento é somente realizado diretamente ao titular da conta corrente do fornecedor de serviços ou bens. O Estado não aceita pagar um título descontado."

O possível envolvimento de Georges Sadala Rahin em esquemas com o governo do Estado do Rio foi levantado por Gabeira e pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR) depois que o blog do último publicou fotos em que ele aparece com Cavendish, o governador Sérgio Cabral (PMDB) e vários de seus secretários comemorando num restaurante em Paris em 2009. Sadala respondeu que "150 empresários foram convidados oficialmente, em 2009, pelo governo do Estado do Rio, para os seguintes eventos: cerimônia de entrega da medalha de honra da Legião D" Honeur, concedida pelo Senado francês ao governador e para o lançamento do Guia Michelin Rio de Janeiro. Como empresário do setor financeiro, investidor do setor privado no Rio de Janeiro, e amigo do governador, Georges Sadala foi um dos convidados. Todos os gastos foram pagos pelo empresário."

A nota acrescenta ainda que na comemoração estavam também outros empresários que não foram fotografados. "Georges Sadala não esconde que é amigo do governador há muitos anos. Foi convidado na condição de amigo", explica a nota.

Sadala também é sócio minoritário da empresa Gelpar Empreendimentos e Participações que faz partes do Consórcio Agiliza, responsável pela administração do Poupatempo no Rio. Desde 2009, o consórcio já recebeu R$ 57 milhões do Estado e recebeu seu quarto aditivo em 2011, passando a receber mais de R$ 2,3 milhões por mês, segundo Garotinho. A empresa de Sadala também integra também o consórcio vencedor do mesmo serviço em Minas Gerais, Estado que foi governado pelo seu padrinho de casamento, o senador Aécio Neves.

Na nota enviada ao Valor, o empresário diz que "é amigo do senador Aécio Neves e do governador Sérgio Cabral antes de assumirem seus respectivos cargos atuais no Poder Executivo. E não esconde sua relação de amizade com os mesmos. Não considera inconveniente ter uma participação minoritária em empresa que presta serviços para o governo estadual porque o contrato é fruto de licitação por melhor técnica e preço, auditada pelo TCE [Tribunal de Contas do Estado], dentro de critérios regulares e processos com total lisura".

Ontem o ex-deputado Gabeira também recebeu uma nota de Sadala pedindo retratação. Gabeira elogiou a rapidez com que o empresário se prontificou a esclarecer os fatos e postou em seu blog o texto. No entanto, disse que a população tem o direito de saber quem é a pessoa que "aparece com guardanapo na cabeça durante uma farra com a cúpula do governo do Estado".

Segundo Gabeira, "apesar de Sadala afirmar que a factoring não tem nada com a Delta sua proximidade com Cabral e Cavendish é evidente. O empresário mora num apartamento que foi de Cavendish e tem casa uma casa no mesmo condomínio de Mangaratiba de Cabral e seu secretário de Saúde, Sérgio Cortês. Não me interessam relações pessoais de amizade. Mas quando se entrelaçam dessa maneira, mobilizando mais de R$ 1 bilhão de dinheiro público, não posso ficar calado", defende-se Gabeira.

O deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), especializado em orçamento, também questiona as afirmações de Sadala. Ele afirma que nenhuma empresa comete fraudes formalmente e que se elas existem não são registradas pelo Estado.