Título: Câmbio reduz volume exportado em 12 setores
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2006, Primeiro Caderno, p. A3

A valorização do real está reduzindo a quantidade exportada em diversos setores da economia e provocando aumento generalizado no volume de importações. O rombo nas exportações em valor ainda não é relevante porque a maioria dos setores aproveitou o bom momento internacional para reajustar os preços, o que mascara a perda de volume embarcado.

De 27 setores pesquisados, 12 (quase a metade) registraram queda no volume exportado no primeiro semestre do ano em relação a igual período de 2005, revelam dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), obtidos pelo Valor. No auge do "boom" de exportações do país, o crescimento estava disseminado pela economia. De janeiro a junho de 2005, comparado com igual intervalo em 2004, só três setores reduziram a quantidade exportada.

"A tendência é de alta geral de preços, enquanto o crescimento da quantidade exportada está concentrado em alguns setores", diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex. Os preços de exportação caíram em apenas dois setores: equipamentos eletrônicos (2,2%) e siderurgia (13,9%). Ribeiro acredita que a tendência não muda, embora ressalte que a greve da Receita teve impacto negativo em maio e junho.

As quedas mais expressivas dos volumes de exportação ocorreram em óleos vegetais (27,9%), açúcar (22%) - produtos influenciados por fatores sazonais - e madeira e mobiliário (13,4%). Os fabricantes de móveis reajustaram os preços de exportação em 10,6% no primeiro semestre - percentual expressivo, mas insuficiente para compensar a queda do volume.

Uma das regiões mais afetadas é o pólo moveleiro de São Bento do Sul, no Rio Grande do Sul. Com empresas dedicando até 100% da produção ao mercado externo, a região assistiu a queda de 25% no volume de exportações no primeiro semestre. O setor de móveis representa 40% da atividade econômica da cidade, conta Osmar Mühlbauer, diretor da Associação Empresarial de São Bento do Sul.

Entre os produtos manufaturados, o setor de máquinas e tratores reduziu em 8,5% o volume exportado no primeiro semestre. Nesse caso, os fabricantes emplacaram reajustes de 11,8% nos preços e conseguiram leve aumento de 2,2% nos embarques em valores.

Pérsio Pastre, vice-presidente para máquinas agrícolas da Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos, descreve um cenário complicado, com perdas no mercado interno e externo. As empresas reduziram a exportação, apesar da demanda externa seguir aquecida.

As exportações de tratores e colheitadeiras caíram de 30,7 mil unidades em 2005 para 24 mil unidades no acumulado de 12 meses até julho deste ano. "Quando a exportação resulta em margem negativa, você tem que reduzir a produção", diz Pastre. Ele conta que os três maiores fabricantes de colheitadeiras completaram quatro meses de férias coletivas.

No setor de automóveis, as vendas no exterior ficaram estagnadas. A quantidade de carros embarcados cresceu apenas 0,6% de janeiro a junho ante igual período do ano anterior, mas as montadoras reajustaram os preços em 15,4% - percentual expressivo para esse tipo de produto. A Fiat, por exemplo, aumentou em apenas 0,2% as exportações de janeiro a julho, para 58 mil unidades. A empresa admitiu que reajustou preços, mas não revela os percentuais.

Graças aos aumentos de produção da Petrobras, o setor de petróleo e carvão teve o melhor desempenho da balança comercial em volume: alta de 56,3%. Os preços de exportação subiram 38,1%, perdendo apenas para a alta do açúcar (22%).