Título: Impasse em aperto nos cartões
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2010, Economia, p. 25

Divergências entre o BC e o Ministério da Justiça podem adiar o anúncio previsto para hoje das esperadas medidas para frear abusos das empresas

Apesar da grande expectativa do mercado, o Banco Central e o Ministério da Justiça se digladiavam ontem à noite se realmente o Conselho Monetário Nacional (CMN) baixará hoje as esperadas medidas para frear os abusos cometidos pelas empresas de cartões de crédito. Depois de vários adiamentos, tudo levava a crer que, finalmente, o governo tinha chegado a um consenso sobre o assunto. Infelizmente, o martelo ainda não está batido. Pode ser que tudo mude ao longo desta quinta-feira, fazendo com que as rusgas não prejudiquem os consumidores, disse um técnico envolvido com o tema.

A promessa do governo é de reduzir de quase 50 para no máximo 15 o total de tarifas cobradas pelas operadoras e unificar a nomenclatura dos serviços cobrados dos clientes. Se prevalecer a regra vigente para os bancos, os serviços também só poderão ser reajustados a cada seis meses e as empresas serão proibidas de enviar cartões a quem não pediu, pondo fim a uma das principais queixas dos consumidores. Não será a regulamentação ideal, mas daremos transparência ao setor e tentaremos conter a farra das operadoras, afirmou um técnico do BC.

Temendo um arrocho maior por parte do governo, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) anunciou, recentemente, uma série de compromissos para tentar reduzir as queixas dos usuários. Há, inclusive, a promessa de descredenciamento da entidade das companhias que não seguirem à risca a autorregulação. Lojistas e consumidores, porém, estão céticos diante dos exageros cometidos pelas empresas, que não abrem mão de cobrar juros de até 600% ao ano, taxa considerada extorsiva por técnicos do Ministério da Justiça.

Popularização O mercado está de olho na regulamentação a ser anunciada pelo CMN, sobretudo para calcular o impacto que as medidas terão nos resultados das operadoras. Segundo os analistas, mesmo com o fim da exclusividade das maquininhas que registram as operações com cartões, que passou a vigorar em julho último, as receitas das empresas continuaram crescentes. A Redecard havia prometido divulgar ontem, depois do fechamento do mercado, os resultados referentes ao terceiro trimestre. Mas os números não haviam chegado às bolsas de valores até o encerramento da edição. Veremos faturamento crescente, mas a rentabilidade das operadoras tenderá a ser menor, por causa dos gastos maiores com publicidade, afirmou um analista. É o que chamamos de efeito competição, acrescentou.

Dados compilados pela Abecs mostram que o faturamento do setor cresceu 23% no cartão de crédito e 22,7% no de débito entre julho e setembro deste ano ante o mesmo período de 2009. Já o total de operações avançou 16,1%. Pesquisa do Instituto Datafolha mostra que 71% das pessoas com mais de 18 anos em 11 capitais possuem um meio eletrônico de pagamento. Em levantamento realizado no ano passado, essa relação era de 67%. O aumento foi puxado pela expansão dos cartões nas classes C, D e E.

Bradesco tem lucro recorde » Vânia Cristino O Bradesco abriu, com louvor, a temporada de divulgação dos resultados dos bancos para o terceiro trimestre de 2010. Segundo a Consultoria Economática, o lucro da instituição, de R$ 2,527 bilhões, foi o maior já registrado na história para o período. O ganho foi 5,1% superior ao obtido no trimestre imediatamente anterior e 39,5% ante o acumulado entre julho e setembro de 2009. Hoje, o banco espanhol Santander apresenta seus números ao mercado.

O lucro do Bradesco foi puxado pela redução no índice de calote e pela maior demanda por empréstimos e financiamentos. Tivemos mais um trimestre de bons resultados, impulsionados não só pela melhora dos índices de inadimplência, mas também pelo incremento das operações de crédito, disse o vice-presidente do banco, Domingos Abreu.

A carteira total de crédito do Bradesco alcançou R$ 255,61 bilhões em setembro último, com crescimento de 18,6% em relação ao mesmo mês do ano passado. A expansão foi impulsionada pelo desembolsos às micro, pequenas e médias empresas, com crescimento de 27,6% em 12 meses, mais as modalidades de crédito destinadas às pessoas físicas, que avançaram 23% no mesmo período.

O vice-presidente do Bradesco destacou a queda da inadimplência pelo quarto trimestre consecutivo. O índice de atraso no pagamento superior a noventa dias saiu de 5% em setembro de 2009 o percentual mais alto computado pelo banco, ainda sob os impactos da crise financeira mundial para 3,8%. Antes da crise, o indicador era de 3,4%.

Casa própria Domingos Abreu não espera que a inadimplência baixe tanto. A expectativa do banco é de que haja alguma melhora no último trimestre do ano, mas menos acentuada que nos últimos períodos. O executivo explicou os motivos para a taxa não cair aos níveis anteriores à crise. Quando cresce mais o crédito às pequenas e médias empresas, o banco está incorporando um pouco mais de risco, acentuou.

Segundo Abreu, o banco fechou o terceiro trimestre de 2010 com um Índice de Basileia de 15,7%. O percentual está acima dos 11% exigidos pelo Banco Central e dá à instituição margem para ser ainda mais agressiva no crédito. O Bradesco acredita, por exemplo, que a meta de emprestar R$ 7,5 bilhões no crédito imobiliário neste ano será superada. Até setembro, os financiamentos imobiliários na instituição chegaram a R$ 6,9 bilhões.