Título: Setor privado reclama de impasse na Rio+20
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Fonte: Valor Econômico, 26/04/2012, Internacional, p. A13
A Câmara de Comércio Internacional (CCI), que representa milhares de empresas, constata "persistente impasse" nas negociações da Rio+20 e não esconde a frustração com a posição dos governos.
Jean-Guy Carrier, secretário-geral da CCI, reclamou que, apesar do impasse, os governos continuam falando da necessidade de investimentos para descarbonizar a economia, sem porém abrir um diálogo válido com as empresas.
Ele exemplificou com a negociação do fundo de financiamento de US$ 100 bilhões, que serão destinados anualmente aos países em desenvolvimento para combaterem as mudanças climáticas. "Não há muita esperança de se chegar a um resultado concreto no Rio, mas mesmo sem os governos se entenderem, o setor privado teria condições de fazer mais nessa área."
Para o executivo, "os governos se escondem, atrás da desculpa de que não há acordo sobre financiamento, para não fazer nada". Ele diz que o setor privado poderia "contribuir" logo com a economia verde, com investimentos e comércio, se os governos eliminassem barreiras tarifárias sobre produtos ambientais, como painéis solares.
No Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro, representantes do Brasil insistiram que as empresas tinham de participar ativamente das negociações da Rio+20.
Alguns negociadores retrucam, porém, que as empresas estão procurando basicamente abrir mercado para produtos rotulados como ambientais que, em algumas listas apresentadas, incluem desde bicicleta até iate.
Nos anos anteriores, segundo Carrier, quando havia expectativa de um acordo entre os governos sobre o que fazer na área climática, as empresas então se preparavam para adaptações. Agora, constatam um impasse e algumas acham que ir ao Rio sem muita expectativa de resultado é desanimador.
Um representante do governo do México, na Presidência rotativa do G-20, apresentou na conferência da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), nesta semana em Doha, uma visão mais otimista.
O México acha que os governantes do G-20 vão tomar decisões na área climática na cúpula em Luiz Cabos, que ocorrerá dias antes da Rio+20. Mas o que os mexicanos chamam de decisao é, por exemplo, a confirmação de criação do fundo verde para o financiamento dos US$ 100 bilhões anuais para países em desenvolvimento.
A CCI prepara recomendações que levará aos líderes do G-20, feitas por um grupo de trabalho que inclui: Dow Chemical, Telefónica, Repsol, Zurich Financial Services, Corporación America, Hanwha Group, The McGraw-Hill Companies, GDF Suez, Novozymes, Schneider Electric, Energy Transport Group e Royal Dutch Shell. (A.M.)