Título: Lula propõe que países ricos custeiem saúde
Autor: Grabois, Ana Paula e Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2006, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que os países ricos paguem pela saúde pública dos países pobres. Para o candidato, os países desenvolvidos devem abrir mão de parte dos recursos que acumularam em prol das regiões mais pobres do mundo. "Ou daqui a 30 anos, nossos filhos estarão reunidos num outro congresso como esse lamentando a falta de investimento no tempo certo", afirmou Lula, durante discurso de abertura do 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva e 11º Congresso Mundial de Saúde Pública.

Lula disse que será um "peregrino" na luta pela causa do sistema de saúde e acrescentou que o problema da saúde pública nas regiões menos desenvolvidas do mundo não é econômico, e sim político. Lula já fez proposta semelhante, quando sugeriu que o combate à fome e miséria no mundo tivesse o apoio financeiro dos países ricos.

No congresso, Lula garantiu que vai trabalhar para a implementação da nova proposta. "Não enquanto presidente da República, mas enquanto cidadão é que vocês podem ter a certeza de contar comigo para ser o peregrino neste mundo afora pedindo aos governantes que não permitam mais que os países mais pobres vejam seus filhos morrerem porque não podem ter acesso aos remédios caros produzidos pelos laboratórios", afirmou Lula.

O presidente foi muito aplaudido pelos participantes do congresso, que se realizou no Riocentro. O evento reúne profissionais de saúde pública.

Segundo Lula, trata-se de um problema "eminentemente político e não econômico". Lula propôs que o Sistema Único de Saúde (SUS), embora precise de aperfeiçoamento, pode ser um modelo a ser implantado por outros países em desenvolvimento. Ele sugeriu que o modelo do SUS seja implantado em outros países. "Não como um modelo, mas como um anteprojeto, um esboço para que os países ricos ajudem a implantar sistemas como esse nos países pobres." E acrescentou: "E aí sim estaremos salvando milhões de vidas no planeta."

À noite, Lula participou de um jantar na casa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, na zona sul do Rio, com cineastas, artistas, compositores e cantores. Lula chegou ao apartamento acompanhado da primeira-dama, Marisa. Ao chegar, moradores do prédio em que mora o ministro, em São Conrado, saíram à varanda e gritaram: "Lula, cadê o dinheiro do mensalão?".

O jantar foi organizado pelo presidente da Funarte, Antônio Grassi. Marcado para as 18h30, o encontro tinha previsão de 80 convidados mas até as 20h apenas 40 pessoas haviam chegado. Do governo, foram o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e o ministro da Articulação Política, Tarso Genro. Estiveram presentes os cantores Zeca Pagodinho, Sandra de Sá, Fernanda Abreu, Alcione, Leci Brandão e Rosemary; os cineastas Roberto Farias, Luis Carlos Barreto, Lucy Barreto e Paulo Thiago; os músicos Otto, Jards Macalé e Wagner Tiso; os atores Sérgio Mamberti, Renata Sorrah, Paulo Betti, Cristina Pereira, Antonio Grassi, José de Abreu, Marcos Winter e Dira Paes; o teatrólogo Augusto Boal; o artista circense Perfeito Fortuna; e a modelo Luiza Brunet, que chegou acompanhada de seu marido, Armando Fernandez.

A ex-governadora do Rio, Benedita da Silva, compareceu em companhia do marido e ator, Antonio Pitanga. Ao deixar o encontro, o cantor Otto resumiu seu apoio: "Sou fã de Lula. Ele é o menos careta de todos e o mais propício para o país".

À saída, Leci Brandão disse aos jornalistas que Lula, em seu discurso, falou da diferença entre os governos dele e de seu antecessor, com foco nas questões sociais. Reconheceu que algumas pessoas do seu partido fizeram coisas erradas, mas que ele continua tentando realizar as propostas com as quais se comprometeu. (* Do Valor Online)