Título: Queda de Lula e Olívio no RS beneficia tucanos
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2006, Política, p. B8

Chamuscado pelo escândalo do mensalão e pela frustração do eleitorado que esperava um governo mais à esquerda, o PT vem perdendo espaço no Rio Grande do Sul, um Estado historicamente identificado com o partido, para o PSDB, de um lado, e para o P-SOL, de outro. Pesquisa do Ibope divulgada ontem pelo jornal "Zero Hora" mostra que a intenção de voto dos gaúchos no presidente Luiz Inácio Lula da Silva caiu de 39% para 34% desde junho, enquanto o tucano Geraldo Alckmin cresceu de 26% para 29% e a senadora Heloísa Helena avançou de 8% para 16%.

A queda de Lula foi acompanhada pelo candidato do PT ao governo, Olívio Dutra, que recuou de 26% para 21% no período. Ao mesmo tempo, a deputada federal Yeda Crusius (PSDB) seguiu o desempenho de Alckmin e avançou de 11% para 15% e pode ir para o segundo turno contra o governador Germano Rigotto (PMDB), que concorre à reeleição com 28% das intenções de voto (eram 26% em junho), caso Olívio não consiga dar uma "virada" na campanha, entende a diretora do departamento de ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maria Izabel Noll.

Já a candidata do P-SOL não está conseguindo puxar o candidato do partido no Rio Grande do Sul, Roberto Robaina, que aparece na sexta posição na disputa pelo governo, com apenas 1% das intenções de voto (em junho ele não havia pontuado). A avaliação é que o crescimento de Heloísa está apoiado na figura pessoal da senadora e que os 16% ostentados por ela vão "muito além" do eleitorado que o partido conseguiu abocanhar do PT e de outros partidos de esquerda, explica Maria Izabel.

Em julho e no início de agosto o jornal gaúcho "Correio do Povo" havia divulgado pesquisas próprias em que Alckmin aparecia na frente de Lula no Estado e, na opinião da professora, o tucano tem espaço para crescer mais alguns pontos, chegando até a 35%. Segundo Maria Izabel, ele tende a capturar mais eleitores "liberais" e "conservadores" que nos últimos anos haviam optado pelo PT em função da bandeira da ética. Nesta subida, ele pode ajudar Yeda, que embora ainda não tenha usado imagens do presidenciável na propaganda eleitoral na televisão, vem batendo insistentemente na tecla da probidade, da "competência" e da "novidade".

Como resposta, Olívio abriu seu programa eleitoral de ontem à tarde com uma participação do presidente Lula defendendo o governo do petista de 1999 a 2002 e destacando a passagem dele pelo Ministério das Cidades. Mas aí há dois problemas, lembra a professora: apesar dos recentes anúncios de socorro do governo federal para setores econômicos importantes como calçadista, moveleiro e de máquinas agrícolas, o desempenho do presidente até aqui é pior do que a votação obtida por ele no primeiro turno das eleições de 1998 (42,25% dos votos totais, incluindo brancos e nulos) e 2002 (41,69%) e, além disso, o perfil do eleitorado de Lula é diferente do de Olívio.

Na estratificação por escolaridade e renda da última pesquisa, Lula saiu-se melhor entre o eleitorado que ganha até um salário mínimo (44%) e cursou até a quarta série do ensino fundamental (42%). Com Olívio é o contrário. Os melhores índices aparecem entre os eleitores com curso superior (33%), enquanto no quesito renda o desempenho é melhor na faixa de dois a cinco salários mínimos (23%) e acima de cinco salários (22%)

A tendência apresentada por Olívio é semelhante à de Yeda, o que aumenta a disputa por eleitores de perfis semelhantes. A tucana tem melhor desempenho entre os eleitores que cursaram da 5ª à 8ª série do ensino básico, com ensino médio e curso superior (16%) e com renda acima de cinco salários mínimos (18%).