Título: Combate à violência juvenil cabe a todos
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Fonte: Correio Braziliense, 28/10/2010, Opinião, p. 28

Visão do Correio

O caso da adolescente de 14 anos que teve o rosto cortado 22 vezes por uma colega de escola da mesma idade, armada com lâmina de apontador, não pode nem deve ser considerado fato isolado. A agressão ocorreu a poucos metros do colégio público em que as duas estudam, em Sobradinho, mas tampouco se trata de problema restrito à rede escolar ou ao Distrito Federal.

A verdade é que a violência juvenil se tornou rotina e assumiu proporções de epidemia mundial. Está aí o bullying, uma de suas principais faces, mobilizando governos e a sociedade civil em vários países. No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça acaba de lançar cartilha com orientações a pais e educadores. Nos Estados Unidos, a questão mereceu pronunciamento do presidente da República na semana passada e cantores da Broadway se uniram em campanha contra a prática.

Note-se que, no episódio de Sobradinho, as mães das duas adolescentes envolvidas isentaram a escola de culpa. De fato, responsáveis somos todos. Só a partir desse entendimento será possível enfrentar com algum sucesso a onda de incivilidade ou selvageria que toma conta da humanidade. O primeiro antídoto precisa ser ministrado dentro de casa. Se valores e limites não são aprendidos no lar, a convivência fora dele terá maior chance de ser conflituosa.

Crianças que chegam à escola sem noção precisa da importância do respeito ao outro dificilmente serão corrigidas pelos educadores. Pode-se reprimir a indisciplina, alcançar algum controle da situação, mas daí a formar cidadãos cientes de que, além de direitos, têm deveres perante a sociedade vai grande distância. Em especial, na escola pública brasileira, cujo ambiente seja pela má qualidade do ensino, seja pelo grau de insatisfação presente é pouco propício à paz.

Começa que, para impor respeito, o professor deve ser respeitado. Isso significa ter qualificação, ser bem remunerado e contar com o apoio da coordenação da unidade em que lecione e da Secretaria de Educação, seja em nível municipal ou estadual. Do contrário, o mestre facilmente se tornará refém de alunos ameaçadores. Mais: atividades extraclasse e horário integral são imprescindíveis.

Da mesma forma, grade curricular que desperte o interesse dos alunos e colégios com estrutura física acolhedora são essenciais. Enfim, não há o que inventar. Se as famílias e as instituições de ensino cumprirem sua missão educadora, a violência juvenil tenderá a refluir. De preferência, sem o uso da repressão ou mesmo do policiamento ostensivo, salvo excepcionalmente, em casos que envolvam armas, drogas e gangues.

No domingo, o país concluirá a escolha dos governantes que assumirão o comando dos estados e da nação a partir de janeiro. Apenas superficialmente se tratou da educação nas campanhas, uma falha dos políticos, mas também dos eleitores, cuja responsabilidade está aquém e além das urnas. O brasileiro precisa exercitar a cidadania em sua plenitude, fiscalizando o desempenho e exigindo que os mandatários cumpram a parte que lhes cabe na construção de um futuro seguro para a juventude.