Título: Guerrilha disputa madeira na Colômbia
Autor: Crowe, Darcy
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2006, Internacional, p. A11

A extração de madeira se tornou um negócio mortal na região selvagem e pantanosa próxima da fronteira da Colômbia com o Panamá, que a guerrilha de esquerda tenta retomar dos paramilitares de direita.

No último confronto sangrento, os rebeldes decapitaram 13 madeireiros que eles suspeitavam trabalhassem para os paramilitares, disse o coronel Richard Gutierrez, o comandante militar da região.

O conflito colombiano se desenvolve, dependendo da região, em torno da produção de cocaína, de esmeraldas, ouro, carvão e petróleo. Já na Província de Choco, a mais pobre do país, a madeira é o principal produto econômico.

Como é a única Província da Colômbia com saídas para o Pacífico e para o Atlântico, Choco também é estrategicamente importante como um corredor para drogas e armas ilegais.

Para as 14 mil pessoas que vivem ao longo do barrento rio Atrato, que corre do sul para o norte da Província, usar uma motosserra vendida pelos paramilitares já é suficiente para serem mortas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que lutam contra o governo há 40 anos.

Os 13 madeireiros decapitados pelas Farc perto de Riosucio, no dia 15 de julho, estavam carregando motosserras vendidas pelas forças paramilitares da região, uma das poucas a não se desmobilizarem para aproveitar a anistia oferecida pelo governo, de acordo com as autoridades locais e os moradores.

"As Farc estão tentando controlar o mercado de madeira e amedrontar a população", disse Saul Buritica, presidente de uma madeireira que opera na região.

Manuel Pinzón, morador de Riosucio, disse que os paramilitares venderam 87 motosserras para os moradores, suprindo uma lacuna ocorrida por causa da ausência de autoridade do Estado. "Nós acreditamos mais nas instituições ilegais do que nas legais."

Cerca de 80% dos habitantes dessa cidade - cujo nome significa "rio sujo" - depende da extração de madeira, disse Angel Palomeque, presidente da associação comunitária local e das Organizações do Baixo Atrato.

Em Choco, ganhar 40 pesos por dia cortando árvores é o melhor trabalho disponível, mesmo que isso signifique ter de penetrar na selva, ficar dias incomunicável e, agora, correndo risco de vida. A principal madeira extraída é o abarco, parecida com o mogno e usada para fazer móveis, muito da produção vendida no exterior.

Cada carregamento de cinco ou seis troncos que deixa Riosucio vale cerca de US$ 3,6 mil, mas quando chega às madeireiras nas cidades, como Cartagena ou Barranquilla, seu valor dobra.

Até que as Farc fossem expulsas da região, em meados dos anos 90, elas cobravam uma comissão de 10% a 15% por cada carregamento. Quando os paramilitares assumiram, eles tomaram os portos do rio Atrato, onde a madeira é carregada, se tornando intermediários no negócio e cobrando pedágios no rio, dizem os moradores.

Ironicamente, a indústria de extração de madeira é em sua maioria ilegal, pois é feita em reservas indígenas supostamente protegidas pelo governo.

Os paramilitares locais, o poder dominante na região desde o fim dos anos 90, dizem que planejam se desarmar em agosto. Mas i iminente desmobilização de 1,5 mil combatentes abriu as portas para o retorno dos antigos inimigos, os guerrilheiros de esquerda.

A mais recente ofensiva das Farc atingiu duramente a aldeia de Unguia - duas horas de barco de Riosucio -, de onde 70 famílias fugiram depois de a guerrilha ter matado quatro pessoas que administravam um programa do governo para recuperar as terras que estavam sendo usadas para o plantio da folha de coca, matéria-prima para a cocaína, disse Rosário Torres, moradora da região.

Gutierrez, o comandante militar regional, disse que o Exército aumentou o número de soldados servindo naquela zona, mas a selva quase impenetrável torna difícil confrontar as Farc.