Título: Pequena empresa recorre a crédito de curto prazo
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Finanças, p. C2

Quase um terço das pequenas e médias empresas brasileiras contratam empréstimos de curto prazo mais de três vezes ao mês, para pagar despesas correntes, como fornecedores e salários, constatou Sondagem Industrial que a Confederação Nacional Indústria (CNI) divulgará hoje, com o perfil do financiamento de curto prazo às empresas industriais. Entre grandes empresas, mais de um quarto (26,5%) faz empréstimos de curto prazo mais de três vezes ao mês.

A pesquisa mostrou, ainda, que os principais instrumentos de crédito de curto prazo para as empresas de menor porte são também alguns dos mais caros: a conta garantida ou cheque especial e o desconto de duplicatas. Entre as pequenas e médias empresas, 53,5% usam cheque especial ou conta garantida, e 46,5% o desconto de duplicatas. Entre as grandes empresas, 54,2% usam linhas especiais para capital de giro, mas um número expressivo, 31,3%, lançam mão do cheque especial ou conta garantida.

A maior diferença de uso de instrumentos de crédito de curto prazo foi notada em relação ao uso de desconto antecipado de cheques (geralmente por empresas de factoring), recurso usado por uma em cada cinco pequenas ou médias empresas, e por apenas 2,4% das grandes.

O questionário da CNI, apresentado a pouco menos de 1,4 mil empresas, não trazia como opção uma alternativa de crédito que se descobriu ser uma importante fonte de crédito de curto prazo para as grandes empresas: o adiantamento de contrato de câmbio (ACC). Uma espécie de empréstimo garantido pelas receitas com exportação, os ACC foram apontados por quase 10% das grandes empresas como fonte de empréstimos.

Três fatores dificultam a contratação de empréstimos, não importa o tamanho da empresa: a exigência de garantias reais, por parte dos bancos; a burocracia com exigências de documento e renovação de cadastros; e as exigências de reciprocidades (aquisição de outros serviços dos bancos). O nome sujo em sistemas de proteção ao crédito foi apontado por 12% das pequenas e médias empresas entre as principais dificuldades: a inscrição do Cadastro de Inadimplentes (Cadin) do governo federal é problema para 8,7% das firmas de menor porte.

O pagamento de despesas correntes é a principal finalidade dos empréstimos de curto prazo para 80,2% das empresas menores e 63,9% das grandes. A seguir, vêm as obrigações fiscais e previdenciárias (24,1% das pequenas e médias empresas e 32,2% das grandes) e a recomposição de estoques (26,5% e 21,7%). Sinal preocupante de dependência de crédito é o fato de que cerca de 17% das firmas contrata empréstimos de curto prazo para pagar outras dívidas.

Os bancos privados nacionais são a principal fonte de crédito para 80% das grandes empresas e para pouco menos de 60% das pequenas e médias. Os bancos são mais acessíveis às pequenas e médias empresas no sudeste que no nordeste, onde pouco mais de 40% das firmas apela a eles como principal provedor de financiamento de curto prazo. No sudeste, esse percentual é de 65,9%. Enquanto 32,5% das grandes empresas contrata empréstimos de mais de 90 dias, e 19% entre 61 a 90 dias, as pequenas e médias empresas, na ampla maioria, fecha contratos com prazos de, no máximo, 60 dias, aponta o estudo da CNI.