Título: Indicadores não apontam perdas com os ataques em SP
Autor: Facchini, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Empresas, p. B4

Os efeitos do ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) no comércio varejista do Estado de São Paulo não afetaram os indicadores de vendas do varejo no Estado de São Paulo. Segundo associações e economistas ouvidos pelo Valor, houve recuo no volume de vendas nos dias em que a violência tomou conta de algumas regiões, porém, esse movimento foi revertido nos dias seguintes aos ataques. Os consumidores, dizem, mudam os hábitos, mas não desistem das compras.

Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ASCP), diz que no primeiro ataque, que começou na sexta-feira, dia 12 e parou a cidade na segunda-feira seguinte, as consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) tiveram um forte recuo justamente na segunda-feira. No entanto, ao longo da semana o número de consultas foi crescente, "o que acabou compensando as perdas dos outros dias", diz Alfieri.

No fechamento de maio - primeiro mês dos ataques - as consultas ao SCPC subiram 6,6%, enquanto as consultas ao cheque, para compras à vista, foram 9,4% maiores do que no mesmo mesmo período de 2005. O mês de julho - quando a cidade não parou durante os ataques - foi mais fraco: alta de 2,8% nas vendas a prazo e de 6,6% nas compras à vista, sempre em relação a igual mês de 2005.

"É o poder de compra que afeta a decisão de consumo. É o acesso ao crédito e a quantidade de renda disponível que faz com quem alguém realize uma compra", explica Fernanda Della Rosa, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). Mas a confiança do consumidor na semana dos ataques foi abalada, conta a economista. Em julho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) fechou o mês em 134,62 pontos, mas na semana dos ataques, o índice cedeu para 110 pontos.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o desempenho do Estado de São Paulo foi semelhante ao do resto do país em junho (último dado disponível). Na comparação com junho de 2005, o volume de vendas do comércio paulista cresceu 3,66%, enquanto a média nacional ficou em 4%.

Para o economista Fernando Montero, da Convenção Corretora, o impacto da Copa do Mundo sobre o varejo foi muito maior do que o provocado pela onda de violência. "O fechamento do comércio nos horários dos jogos e o desânimo do consumidor com a saída do país da competição afetaram muito mais as vendas", diz.

Sussumo Honda, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), acredita que, como a insegurança acaba por tirar as pessoas das ruas, isso afeta o movimento nos supermercados. "Só que as pessoas não deixam de comprar, apenas adiam a compra". Para ele, o consumidor mudará seus hábitos e pode evitar comprar à noite, mas continuará comprando.