Título: Segurança passa a ser mais valorizada pelo consumidor
Autor: Facchini, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Empresas, p. B4

O medo e a preocupação com a segurança são um problema com o qual os varejistas terão de aprender a conviver e, mais do que isto, a buscar respostas. "Essa é uma questão global. Não acontece só no Brasil", diz Cesar Suaki, diretor comercial do Pão de Açúcar, a maior rede de supermercados do país. "Essa é uma tendência que vai continuar. Não enxergo uma reversão da violência (no curto prazo)", afirma Suaki.

O varejo - supermercados, restaurantes, lojas de conveniência etc - foi o segmento da economia que primeiro sentiu os reflexos dos ataques da facção criminosa PCC, deflagrados há pouco menos de três meses, em São Paulo. Imediatamente, caíram as vendas e o tráfego nas lojas.

A situação normalizou-se, em seguida, e é provável, acreditam alguns, que passado certo tempo as pessoas nem se lembrem mais dessas ondas de violência. A reação da população ao primeiro ataque, tirando os filhos da escola e saindo do trabalho mais cedo, também foi bem mais drástica do que a que se viu nos ataques seguintes. "Não é o PCC que vai mudar o hábito de consumo das pessoas", diz o executivo de uma grande indústria.

Mas, a sensação de vulnerabilidade e a busca por locais mais seguros, que já existiam antes dos tumultos, só tendem a se aguçar. Para Suaki, a maior preocupação com segurança precisa ser vista pelos varejistas como uma oportunidade para oferecer soluções às novas demandas dos clientes.

Uma das respostas percebidas mais rapidamente é o "encasulamento". As pessoas tendem a ficar mais tempo em casa, o que só deve contribuir ainda mais para o crescimento das lojas "pontocom" e do serviço de entrega domiciliar, que já apresentam taxas aceleradas de expansão.

Os fabricantes de eletroeletrônicos já listam a violência nas grandes cidades e o "encasulamento" entre os fatores que têm contribuído favoravelmente para a venda de produtos de entretenimento doméstico, como DVDs e televisores de tela grande.

Depois dos ataques do PCC em São Paulo, por exemplo, o tráfego em algumas lojas 24 horas do grupo Pão de Açúcar caiu no período da noite. "As pessoas passaram a comprar mais durante o dia", diz Suaki.

O Pão de Açúcar reforçou o policiamento de suas lojas 24 horas para garantir maior segurança aos consumidores. Segundo Suaki, isso também acabou por elevar os custos operacionais dessas lojas mas, até agora, a rede decidiu manter abertas todas as unidades 24 horas. Outra mudança percebida no comportamento do consumidor foi a procura por lojas mais movimentadas, que dão a sensação de serem mais seguras. "O movimento acaba atraindo mais movimento", diz Suaki.

Todas essas transformações são difíceis de medir em números. Muitas vezes elas são apenas qualitativas e não quantitativas. "É lógico que, logo após algum acontecimento, como os atentados do PCC, há um pico, uma resposta mais acentuada. As pessoas evitam sair. Mas o que se observa é que, depois, o mercado não volta para o mesmo patamar" , diz Suaki. Segundo ele, a violência provoca mudanças na forma como as pessoas consomem e que acabam depois sendo incorporadas.

Segundo o superintendente do Osasco Plaza Shopping, David da Rocha T. Júnior, desde o primeiro ataque do PCC, em maio, o consumidor tem demonstrado cautela na hora da compra. Em agosto, o índice de Confiança do Consumidor da Federação do Comércio do Estado de São Paulo caiu 4,5% em relação a julho, atingindo o menor patamar dos últimos nove meses. "Isso se explica porque, como mostra a pesquisa da Federação do Comércio, a queda da confiança é maior entre as mulheres com mais de 35 anos. O público feminino é mais sensível aos acontecimentos sociais que afetam o bem-estar da família", diz Rocha Júnior.