Título: Titan negocia ativo da CP Cimento
Autor: Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2006, Empresas, p. B1

Uma empresa ainda ausente do disputado mercado doméstico de cimento está prestes a colocar os pés no país. Está na reta final a negociação para venda de parte do ativo da CP Cimento ao grupo grego Titan Cement. Com um faturamento anual de 1,4 bilhão de euros, a Titan é a maior produtora de cimento da Grécia, com 40% de participação, mas que extrai mais da metade de sua receita de mercados na Europa e Estados Unidos.

Altamente endividada, a CP resolveu no fim do ano passado abrir um processo para venda total ou parcial de seus negócios. Depois de idas e vindas, em que vários interessados na holding ficaram pelo caminho, a expectativa é que um acordo com a Titan seja fechado no fim de agosto.

Segundo o Valor apurou, o desenho que está sobre a mesa agora é a venda de uma participação minoritária, em torno de 30%, de uma das duas unidades de negócio controladas pela holding CP. O mais provável é que os gregos entrem na Cimento Ribeirão Grande, que tem uma fábrica e responde por cerca de 40% da produção da CP. A outra unidade independente é a Cimento Tupi, com três fábricas. Os gregos estariam dispostos a desembolsar entre US$ 60 milhões e US$ 80 milhões pela participação.

O desfecho da operação parece ser bem mais tímido do que se previa inicialmente. Com uma dívida em torno de R$ 500 milhões, quase toda vencendo no curto prazo - parte dela inclusive já vencida -, esperava-se que a família Koranyi Ribeiro, controladora da CP, optaria por venda do controle da holding ou, ao menos, de uma das fábricas por inteiro como forma de equacionar o passivo.

Com a venda de apenas 30%, o dinheiro, que vai entrar na holding, deve ser usado para quitar parte da dívida - no máximo 40% dela. O restante a empresa tentará alongar. Como é a holding que está vendendo a participação, a operação terá que ser aprovada pela Votorantim, que detém 13,4% do seu capital votante. Uma reunião do conselho da CP só deve ocorrer em setembro.

Quando a CP foi colocada à venda, imaginou-se que a operação daria margem a um movimento de consolidação do mercado doméstico. Ou seja, que um dos grandes participantes presentes no mercado local, como Camargo Corrêa ou os suíços da Holcim, avançariam sobre o ativo. Afinal, dez grupos se acotovelam num mercado que estava estagnado nos últimos anos e muitos deles carecem de escala.

No entanto, um após o outro, os grandes "players" locais foram saindo do páreo. "O preço que os controladores têm em mente afastou os interessados", diz uma pessoa que participou do processo num estágio anterior.

A família queria algo em torno de US$ 1 bilhão pelo todo, incluindo a dívida consolidada de cerca de US$ 200 milhões. O valor a ser desembolsado pela Titan aparentemente obedece a esse cálculo, só que para uma parte muito pequena do negócio.

Mesmo para a Titan parece não fazer sentido adquirir uma fatia tão pequena em uma empresa também pequena num mercado como o brasileiro - tem 5% das vendas. No Sudeste, detém uma fatia de 10%. De acordo com fontes familiarizadas com a transação, o objetivo dos gregos seria amarrar algo mais ambicioso para o futuro, como uma participação na própria holding ou a compra do todo.

A Votorantim, líder absoluta, com 40%, nunca pôde entrar porque, dado o seu tamanho atual, já enfrentaria problemas de concentração de mercado.

Na mitologia grega, os titãs eram divindades que representavam as forças da natureza. Eram filhos dos senhores primitivos do universo, Urano e Gaia (céu e terra). Cronos, o mais jovem dos titãs, foi destronado por seu filho Zeus, que se tornou o principal deus do Olimpo.

O grupo Titan surgiu em 1902 na Grécia e montou no país a primeira fábrica de cimento, na cidade de Elefsina. Em 1911, tornou-se uma sociedade anônima e um ano depois abriu o capital ao listar suas ações na bolsa de valores de Atenas. Ainda hoje, fazem parte de seu capital alguns acionistas pertencentes às famílias fundadoras.

Atualmente, com quatro instalações, domina dois quintos das vendas no mercado grego. Mas, desde os anos 90, o grupo iniciou um processo de internacionalização. Atualmente, 57% de sua receita vem de operações no exterior, principalmente do mercado americano. Nos Estados Unidos, a Titan opera duas fábricas - uma no Estado da Virginia e outra na Flórida.

Com produção anual de 15 milhões de toneladas de cimento, o grupo verticalizou sua operação. Hoje, detém desde minas de areia e brita até fábricas de concreto, blocos para construção, argamassas e porcelanas. Nos Estados Unidos, opera em várias localidades terminais de importação e exportação de materiais.

O principal objetivo do grupo Titan, que controla 40 empresas, é tornar-se uma companhia multi-regional, não ficando restrita à região sul da União Européia e Egito. Nessa estratégia, depois dos Estados Unidos, com a Titan Americas, o mercado brasileiro pode ser o primeiro passo para ocupar posições na America Latina.

Procurada, a CP Cimento disse que não iria se manifestar pois continua em negociações.