Título: Clima ajuda a colheita de café, mas ameaça florada
Autor: CB
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2006, Agronegócio, p. B12

O clima seco e quente registrado nas últimas semanas em São Paulo e Minas Gerais contribuiu para o avanço da colheita da safra 2006/07 do café arábica. Mas pode atrapalhar o desenvolvimento da cultura no próximo ciclo, que começa a florescer neste mês.

A Cooperativa dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso) já começa a sofrer os efeitos da estiagem, que dura 110 dias no sul de Minas Gerais. Segundo Marcelo Almeida, gerente de gestão do agronegócio da cooperativa, cresce o volume de cafezais com folhas e botões florais deteriorados nas regiões de Piumhi, Jacuí, São Tomás de Aquino, Guapé e na cidade paulista de Altinópolis.

"Se há problemas nos botões florais, não há formação de grãos", explicou Almeida. Ele observou que o cafezal suporta sem danos um déficit hídrico no solo de até 150 mm e, neste momento, o déficit na região é de 171,3 mm - similar ao clima de 2002, que provocou uma quebra de 61% na safra 2002/03. "É preciso que chova até o início de setembro, mas por enquanto não há previsões de mudança no clima", observa. A cooperativa espera encerrar a safra atual com a colheita de 2,7 milhões de sacas, ante 1,528 milhão no ciclo anterior. A Cooparaíso possui 127 mil hectares em produção e destina todo o café à exportação.

Ainda conforme Almeida, o clima favoreceu a colheita e a secagem dos grãos. Até agora, a cooperativa colheu 50% da safra e, desse total, 60% já foi beneficiado. Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita da safra atual já atingiu 50% da área plantada. A produção total neste ciclo é estimada em 40,6 milhões de sacas.

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP), nem metade do café colhido foi entregue às cooperativas. Houve atraso de 20 dias no início da colheita e produtores esperam novas altas nos preços internacionais para comercializar o grão, segundo Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. Esses fatores têm sustentado preços no país. Neste mês, o indicador Cepea/Esalq para o arábica subiu 9,57%, para R$ 240,37 a saca.