Título: Fábrica da Volks no ABC pode fechar em três anos
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Empresas, p. B8

O acordo que a Volkswagen quer fechar com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é capaz apenas de garantir um tempo de sobrevida à maior fábrica de carros da América do Sul. Com essa negociação, uma espécie de aval dos sindicalistas à demissão de um terço do quadro de empregados, a empresa conseguirá manter as linhas de São Bernardo do Campo somente até o final da vida útil dos veículos produzidos ali. Mas a fábrica está mesmo fadada ao fechamento - o que pode acontecer daqui dois ou três anos - porque a Volks não tem nenhum projeto que garanta a atividade da unidade.

Os carros que a Volks produz no ABC estão a caminho do final da linha. Mas ainda não chegaram lá. Isso inclui um contrato de exportação para a Europa. É por isso que, por enquanto, a companhia quer evitar reviver um clima de guerra com o sindicato, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Quer fechar um acordo com o sindicato e, assim, pode fechar, sem qualquer resistência, 3,6 mil postos de trabalho. Com a fábrica mais enxuta, conseguiria continuar produzindo naquela unidade o Fox para exportação para a Europa, a Kombi, o Polo e parte do Gol.

Ontem, os sindicalistas disseram que não pretendem fechar nenhum acordo que inclua demissões. Essa posição foi referendada pelos trabalhadores numa assembléia realizada durante a troca de turnos. Até agora o cenário indica que haverá enfrentamento com o movimento sindical do ABC. Fontes da indústria contam que a Volks já fez até estoque de carros em terrenos alugados. No final da tarde foi marcada uma reunião entre a empresa e os representantes dos trabalhadores para hoje de manhã para tentar um acordo.

A empresa não fornece detalhes dos seus futuros planos. Mas, segundo os sindicalistas, além de continuar produzindo os modelos já feitos em São Bernardo, a Volks pensa, como forma de evitar que um número maior de demissões ocorra, em usar a fábrica do ABC para fazer a produção complementar de um novo carro - o substituto do Gol - que será concentrada em Taubaté, outra fábrica que a montadora tem no interior de São Paulo. Nessa cidade a montadora conseguiu fechar acordo com os sindicato para demitir.

O plano de produção complementar seguiria, em parte, a estratégia usada até hoje. A linha Gol é produzida em Taubaté e uma pequena parte no ABC. Isso serve, inclusive, para os períodos em que é preciso elevar a produção do modelo para atender ao aumento de demanda ou algum contrato de exportação.

A estratégia é, no entanto, insuficiente, para manter o fôlego de uma fábrica que tem capacidade de produção de 1,1 mil veículos por dia. Hoje são feitos 960. Mas a tendência é esse volume diminuir cada vez mais.

Segundo Wagner Santana, coordenador da comissão de fábrica em São Bernardo, a produção do Fox para a Europa vai cair das 60 mil unidades este ano para 30 mil no próximo e 7 mil, em 2008. Há suspeitas, entre os trabalhadores, de que o Fox deixe de ser exportado no segundo semestre de 2008. Sobrariam Polo e Kombi. A produção mensal do Polo caiu de 1 mil para 300 a 400 unidades.

As contas finais da própria empresa indicam que essa fábrica chegará em 2008 com a produção de apenas 300 a 400 carros por dia. Nesse caso seria necessário demitir 6,1 mil trabalhadores e não 3,6 mil. E, por fim, fechar as portas. Se houver acordo com o sindicato, a empresa se diz disposta a elevar a produção diária para 700 unidades - por meio da complementação de linha da fábrica de Taubaté. Nesse caso, a maior fábrica de carros da América do Sul seria transformada numa espécie de linha complementar de outra unidade. Mas, ao mesmo tempo, o número de demitidos ficaria limitado aos 3,6 mil inicialmente previstos. Hoje 5,8 mil empregados trabalham diretamente nas linhas de montagem. Há ainda 1,4 mil que operam as linhas de motores, transmissões e outras peças.

Nos discursos de ontem, os sindicalistas atribuíram os problemas que a Volks enfrenta no país a falhas na administração. "Não podemos pagar pelos erros administrativos da empresa", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José López Feijóo.