Título: Para mercado, discurso de Tombini sugere corte maior na Selic
Autor: Safatle ,Claudia
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2012, Brasil, p. A3

Mensagens importantes foram transmitidas pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em discurso de abertura do Seminário Anual de Metas para a Inflação, ontem, no Rio. Ele chamou a atenção sobre as várias mudanças produzidas no pós-crise global para os Bancos Centrais, na condução da política monetária, e a avaliação dessa nova fase alertou alguns agentes do mercado. Ressaltou a necessidade de maior transparência na comunicação dos Banco Centrais, para evitar interpretações extremas e mencionou a "grande variância no cenário internacional", que piorou substancialmente nas últimas semanas.

Trechos do pronunciamento foram interpretados como um sinal de que o Comitê de Política Monetária (Copom), no dia 30, pode deixar de lado a "parcimônia" que está na última ata, e baixar a Selic em mais 0,75 ponto percentual, para 8,25% ao ano.

Tombini disse que a crise deixou clara a necessidade de os Bancos Centrais serem menos herméticos, mais transparentes, na sua comunicação. Alguns BCs, antes mesmo da crise, já haviam migrado para uma comunicação mais explícita sobre a evolução quantitativa projetada de suas taxas básicas de juros. "Não se trata apenas de fortalecer os mecanismos de formação de expectativas dos agentes, mas também de evitar que interpretações com variância excessiva possam afetar o funcionamento dos mercados", explicou.

O agravamento mais recente das condições da economia global está no centro das preocupações do BC. "Basta observar a rapidez com a qual se modificou nas últimas semanas a perspectiva de crescimento nos EUA, a probabilidade de resolução da crise na zona do euro ou até os dados, por vezes contraditórios, sobre o pouso suave na China", disse ele.

Diante de grandes incertezas, os Bancos Centrais têm procurado ser mais explícitos em suas comunicações, reiterou o presidente do BC, salientando que essas vêm "acompanhadas com uma repetida mensagem de que esses indicativos sempre estão condicionados ao conjunto de informações disponível a cada momento". Ocorre que atualmente essas informações estão mais voláteis, o que resulta na necessidade da autoridade monetária ajustar-se com maior frequência aos desdobramentos do cenário existente, ponderou.

"Ou seja, ao benefício de uma maior transparência na comunicação se contrapõem mudanças mais frequentes nas sinalizações. Mas não penso que por conta disso vamos ou devemos retornar ao hermetismo do passado ou a um estilo de comunicação que permanece em generalidades e perde em precisão. Nesse momento de transição, esse "trade-off" apenas tende a acarretar um custo reputacional um pouco maior para os Bancos Centrais."

Essas declarações levaram agentes do mercado à leitura de que o Copom pode prosseguir no corte maior da Selic, de 0,75 ponto percentual e não 0,5 ponto percentual como induzia a última ata.

A Europa voltou para a beira do abismo; a perda de dinamismo da economia chinesa ameaça o crescimento daquele país e os últimos dados de comércio exterior, com queda pronunciada da taxa de crescimento das exportações e das importações, foram especialmente ruins. Os Estados Unidos não reagem e ontem o presidente do Banco Central da Holanda, Klaas Knot, falou em "década perdida" para a Europa.

Tombini discorreu, também, sobre a complexa relação entre estabilidade de preços e estabilidade financeira e da revisão sobre a caixa de ferramentas dos bancos centrais no debate pós- crise. Disse que o regime de metas para a inflação continua sendo o melhor arcabouço de política monetária, mas que isso não impede aperfeiçoamentos a partir das lições da crise. "Como, por exemplo, incorporando nos modelos macroeconômicos informações sobre o segmento financeiro, inclusive sobre preços de ativos, bem como sobre política fiscal", completou.

Dos debates surge "um pragmatismo", dois instrumentos para dois objetivos. A política monetária deve assegurar a estabilidade de preços e as políticas micro e macroprudenciais devem assegurar a estabilidade financeira. "Contudo, não podemos ignorar que suas ações, seus objetivos e seus impactos apresentam fortes interconexões."