Título: 'Conselhão' propõe plano para país crescer 6% ao ano no período 2008-2022
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Brasil, p. A4

Governo e integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social (CDES) discutem, amanhã, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um documento denominado Plano Estratégico de Crescimento com Distribuição de Renda, propondo rumos ao país nos próximos 15 anos. O texto prevê, entre outras coisas, crescimento econômico de 6% ao ano no período de 2008 a 2022 e um volume de investimentos pelo BNDES de R$ 650 bilhões pelos próximos dez anos.

Pelo lado do governo, participaram da elaboração do documento o Banco Central, o Ministério da Fazenda e o BNDES. Da parte do Conselho, debateram as propostas empresários, sindicalistas e representantes da sociedade civil organizada. De acordo com o ministro da Coordenação Política e presidente do Conselho, Tarso Genro, o texto vai debater, além do crescimento econômico, novos níveis para as taxas de juros, metas de superávit primário e propostas para redução do índice Gini, que mede o nível de desigualdade social no país. "O governo pretende, em um eventual segundo mandato, inverter o binômio estabilidade-crescimento. A estabilidade está consolidada, o país precisa retomar o rumo do crescimento", diz Genro.

O governo mantém para este ano a previsão de crescimento de 4%. Genro não prevê arrocho para 2007, embora reconheça que o estudo vai dedicar um capítulo à reforma do Estado. "Não conseguiremos atingir os 6% no ano que vem. Nós descartamos um estilo de crescimento como o chinês. Preferimos um ritmo sustentado com distribuição de renda, não exponencial. A realidade chinesa, com o processo de desestatização e abertura de novas fronteiras, é muito distinto do nosso", disse Genro.

Segundo o ministro, as propostas não farão, necessariamente, parte do programa de campanha do candidato Lula. "Serão enunciados realistas, não será nada chutado." Genro afirmou que as discussões preliminares sobre o texto, que também conta com o apoio da Fundação Getúlio Vargas, já ocorreu nos subgrupos do CDES. Amanhã será apresentado o formato final do documento. "Vamos mostrar o que é possível fazer pelo país, independentemente de qual presidente assumir o poder em janeiro de 2007", afirmou o ministro.

O documento será dividido em três itens: enunciados políticos, modelos de desenvolvimento e objetivos estratégicos. "Nos últimos 20 anos, o Brasil voltou-se para o ajustamento macroeconômico e a diminuição da vulnerabilidade externa. Com isso, os formuladores de políticas, em geral, perderam o foco indutor do planejamento estratégico de médio e longo prazo. Agora, o Conselho propõe um plano de crescimento, a partir de um processo de concertação nacional", disse Genro.

O ministro assegura que o texto conta com o apoio dos empresários. Mas brinca que nem tudo poderá ser atendido. "Quando vemos o volume de investimentos que eles planejam, percebemos que eles querem o crescimento. Por outro lado, quando vemos a taxa de juros que eles defendem, descobrimos que não é tão fácil assim. Não adianta reduzir demais a taxa de juros sem o devido cuidado ao controle da inflação", ponderou.