Título: Governo defende medida de estímulo
Autor: Resende ,Thiago
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2012, Finanças, p. C9

Após reunião com a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo pode adotar medidas para estimular o crédito, classificado por ele como um dos pontos problemáticos da economia do país. Com isso, Mantega espera "assegurar que a economia brasileira vai crescer mais que o ano passado".

Na edição de ontem, o Valor informou que o governo deve reduzir, de forma seletiva, os depósitos compulsórios dos bancos, além de diminuir a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o crédito. Ao ser perguntado sobre essa possibilidade, Mantega não descartou o uso dos artifícios. "Temos várias medidas", respondeu.

"A diferença com os países avançados é que às vezes [eles] já não têm mais política monetária para fazer", afirmou. "O Brasil tem muita política para fazer", completou. "Não vou mencionar aqui medidas específicas", ressaltou o ministro. Segundo ele, várias das medidas publicadas pela imprensa "podem ser tomadas".

"Há uma escassez de crédito? Há. As taxas estão elevadas, mas eu vejo que há uma boa vontade de parte do setor financeiro para remediar essa situação abaixando as taxas e liberando mais crédito. É claro que nós vamos conferir isso. E nós estamos em cima disso todos os dias", afirmou Mantega.

Questionado se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não iria passar de 3%, como preveem alguns analistas, o ministro respondeu que "isso está incorreto". Ele reforçou que o Brasil, em especial o setor industrial, sofre impacto com a instabilidade econômica mundial, mas o país tem condições de conseguir um crescimento maior por causa do dinamismo do mercado interno.

Um dos fatores que vão impulsionar esse crescimento é o câmbio, que, segundo Mantega, não é motivo de preocupação do governo. "O câmbio vai ajudar a entrada de produtos importados ou pelo menos vai encarecê-los dando mais espaço para os produtos brasileiros", explicou. "O dólar vai beneficiar a indústria brasileira."

Comentando o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado em abril, o ministro afirmou que a inflação continua "menor, muito menor, que do ano passado". Divulgado na quarta-feira, o IPCA avançou de 0,21%, em março, para 0,64% em abril. A elevação, porém, "foi inferior ao mesmo mês do ano passado", destacou ele.

Mantega avaliou que a situação dos países europeus "que hoje estão se defrontando com o agravamento da crise" preocupa o governo. Segundo ele, a estratégia de adotar apenas ajuste fiscal, cortar gastos e reduzir salário, por exemplo, não funciona.

Os países europeus "vão ter que rever essa estratégia sob a pena de afetar a si próprios", ao citar, por exemplo, os casos da Espanha e da Grécia. "A austeridade só levou a mais austeridade, não levou à recuperação" e as "dívidas, ao invés de cair, subiram", completou. Para Mantega, a situação econômica vivida por alguns desses países "aliás, já derrubou vários presidentes e primeiros ministros".

Sobre as posições do presidente eleito da França, François Hollande, para quem não basta reduzir despesa, é preciso dar estímulos à economia, Mantega concordou e ressaltou que ele "está com posições corretas".