Título: PSDB fica mais agressivo e Lula mostra estrela do PT
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Política, p. A9

Na segunda semana da propaganda eleitoral gratuita, a campanha do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, aumentou o tom das críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano apareceu fazendo críticas diretas ao governo do petista. No programa da noite, os dois candidatos focaram na população de mais baixa renda e Alckmin reforçou sua estratégia de tentar conquistar o eleitorado da base de sustentação do PT. Nas palavras do tucano, o governo ficou mais preocupado nos últimos quatro anos em aumentar os impostos, em "avançar rápido no bolso do trabalhador", do que cuidar do povo.

No programa mais agressivo exibido desde o começo da campanha, Alckmin referiu-se ao presidente Lula como omisso diante de crises no governo. " (O presidente disse) Não sei de nada, não ouvi nada, não era comigo". Em seguida, o tucano garantiu: "Como presidente, vou fazer a minha parte". Na abertura da propaganda do tucano, o depoimento de um popular ressaltava decepção: "Votei no Lula pensando em mudanças. Só vi aumentar as mazelas. O que eu posso falar? Lula, acorda!"

Já a campanha do candidato do PT disse que o Bolsa-Família também é um caminho para melhorar a educação no país e gerar emprego e renda, além de acabar com a fome. O programa comparou dados de investimento em programas de transferência de renda com o governo anterior e disse que Lula investiu quatro vezes mais. "O que não podemos é deixar que o Bolsa Família acabe. É uma conquista do povo brasileiro". Em seguida, o programa exibiu o trecho de um discurso em comício, com o presidente dizendo: "Tem alguns candidatos chiques que dizem que o Bolsa Família é esmola. Para quem come e joga fora comida pode ser. Para mim chama-se dignidade".

No programa da manhã, em tom ameno, mas com mais críticas ao presidente Lula , o candidato tucano a operação tapa-buracos, programa federal de recuperação de estradas anunciado em janeiro deste ano. Ao apresentar um plano nacional de desenvolvimento que pretende implementar no país, disse que a operação "foi na base do improviso, sem licitação e não adiantou nada" e que "na primeira chuva, a buraqueira voltou tudo de novo".

Em resposta às críticas de que o presidente estaria escondendo seu partido, o programa exibiu o número do candidato, 13, em verde amarelo ao lado da estrela vermelha petista. Após comparar o menor crescimento do Brasil em relação a outros países, afirmou que o governo Lula não cria ambiente favorável ao crescimento da economia. "Não investe em estradas e portos. Não dá apoio à agricultura. Não faz obras para gerar empregos. Aumenta impostos. Resultado: o país não anda e aí é claro o investimento vai para outro lugar."

Alckmin apresentou propostas nos âmbitos econômico e social: investir em estradas e ferrovias, melhorar o saneamento básico, construção de casas populares, frentes de trabalho no Nordeste e a urbanização de favelas.

Em contraposição, Lula focou nas realizações na área da infra-estrutura feitas durante seu governo. Dizendo que para evitar um novo apagão, Lula tomou "decisões estratégicas" para o país, apresentou a retomada da indústria naval, "que quase parou na década de 90", e obras em portos, aeroportos, estradas e ferrovias -justamente os pontos atacados no programa de Alckmin.

Lula expôs suas realizações sempre apontando para o futuro. Em relação às obras cujo início estão previstas para 2007, como a refinaria de Pernambuco, o pólo siderúrgico do Ceará e a hidrelétrica do rio Madeira, o presidente fez um alerta de que "elas não podem parar". Disse também que "o Brasil está pronto para crescer em ritmo acelerado nos próximos quatro anos". Adotando discurso semelhante ao de seu principal adversário, afirmou que pretende melhorar a qualidade do gasto para aumentar o investimento público.