Título: Petistas apostam em debandada tucana
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Política, p. A9
O comando de campanha do PT acredita que se as pesquisas eleitorais desta semana consolidarem a liderança de Lula com mais de 40% de intenções de voto, e a estagnação da candidatura de Geraldo Alckmin permanecer, os aliados do ex-governador de São Paulo vão iniciar uma debandada. Pelos cálculos petistas, a próxima semana, que marca o início do último mês de campanha eleitoral, será decisiva para definir o resultado das eleições de outubro.
O primeiro sinal desse movimento, acreditam pessoas próximas ao presidente, foi dado na segunda-feira pelo governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), candidato à reeleição. Em seu programa de rádio, Alcântara utilizou um discurso de Lula chamando-o de companheiro. Na véspera, no final da tarde de domingo, Alcântara já havia ligado para um ministro com gabinete no Palácio do Planalto para destacar que "independente do período eleitoral, tinha todo o interesse em manter uma relação de alta qualidade com o presidente Lula".
O governador também reforçou, segundo o interlocutor, um dos discursos de campanha do presidente da República. "O governador Alcântara assegurou não ter qualquer preconceito em falar sobre reforma política de uma maneira transparente, a partir de agora, para preparar um novo período de governo", assegurou o ministro.
Um dos fatores que vem auxiliando a manutenção da vantagem do presidente, segundo seus auxiliares, é a falta de público-alvo para o discurso de oposição. Soma-se a isso a estratégia cada vez mais específica do presidente de centrar suas intervenções nas classes C, D e E. No fim de semana, em visita a Diadema, Lula conseguiu, de uma vez, discursar para três públicos distintos: aos jovens, exaltou as Olimpíadas de Matemática; às mulheres, destacou a lei contra a violência caseira; aos mais carentes, expôs o avanço do Bolsa Família. "O que os tucanos estão fazendo? Querem atingir a classe média, que oscila entre a esquerda e a direita", resumiu o petista.
O desespero da oposição também teria sido o responsável pela retomada do discurso do impeachment, defendido na segunda feira pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os ministros da coordenação política, Tarso Genro, e do Planejamento, Paulo Bernardo, foram unânimes em afirmar que FHC está em busca de espaço na mídia. "Ele está querendo se vingar, porque seu governo não é defendido pelos colegas, sua figura não é lembrada, sua personalidade política é depreciada pelos companheiros", afirmou Tarso Genro.
Paulo Bernardo foi irônico, afirmando que "FHC deve estar querendo ajudar. Podiam dar a ele um lugar no palanque para expor sua opinião".
Apesar da comprovada frieza da campanha e da falta de interesse da classe média na disputa de outubro, Genro acredita que haverá uma depuração nos quadros políticos, tanto do PSDB, quanto do PT. Entre as lideranças tucanas que sairão fortalecidas, Genro cita: Aécio Neves, Lúcio Alcântara e José Serra. No PT, o ministro da coordenação política defende uma refundação, "com um inevitável choque político para pagar as contas do passado".
O clima de tranqüilidade na campanha é tanta que Lula cometeu ontem um ato falho. Durante cerimônia de cessão de imóveis para a comunidade japonesa de Santos, no Planalto, ouviu reivindicações para inclusão, no Orçamento Geral da União de 2008, de recursos para financiar a festa que marca o centenário de chegada dos japoneses ao Brasil. E aceitou. "Vou pedir ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para que se sensibilize e inclua esses recursos no Orçamento de 2008", afirmou Lula.