Título: Excesso de liquidez de curtíssimo prazo atinge R$ 25,1 bi em agosto
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2006, Finanças, p. C2

A volatilidade no mercado financeiro ocorrida entre maio e junho fez com que o Banco Central voltasse a se confrontar com o excesso de liquidez na economia. Segundo dados divulgados ontem, havia um excesso de dinheiro em mercado de R$ 25,138 bilhões no início de agosto, que precisa ser enxugado constantemente pelo BC por meio de operações de curtíssimo prazo.

Até maio, a situação era bem mais confortável, com alguns dias registrando até falta de liquidez no mercado - o que obrigava o BC a injetar recursos, e não enxugar, como faz agora.

Sob o aspecto inflacionário, o excesso de liquidez já não preocupa mais tanto quanto no passado, pois a política monetária hoje é feita com juros, em vez do controle do volume de dinheiro em circulação. Mas o dado não deixa de ser negativo porque, quando o mercado está muito líquido, os investidores podem fugir com maior facilidade para ativos reais - como o dólar - em casos de crise.

Além da volatilidade no mercado financeiro ocorrida entre maio e junho, pesou desfavoravelmente o vencimento de R$ 40,538 bilhões de títulos prefixados no início de julho (tradicionalmente há concentração de vencimentos em abril, julho, outubro e janeiro, meses chamados de cabeças de trimestre). Outro fator que atuou no aumento da liquidez foram as agressivas compras de dólares pelo BC no mercado de câmbio, que injetaram R$ 9,626 bilhões na economia em julho, e outros R$ 2,955 bilhões apenas nos quatro primeiros dias úteis de agosto. Numa medida mais ampla, que contempla os recursos enxugados pelo BC no mercado em operações com prazo de até cinco meses, é possível afirmar que o excesso de liquidez na economia chega a R$ 91,190 bilhões; em fevereiro, o excesso de liquidez era de R$ 39,121 bilhões.

A última vez que o país registrou volumes preocupantes de excesso de liquidez foi em 2002, na crise das eleições presidenciais, quando os investidores se recusaram a comprar títulos públicos, girando os seus recursos nas operações de curto prazo realizadas pelo BC. Levou quase três anos para o BC restaurar as antigas condições de liquidez.

Há algumas diferenças importantes, porém, entre o episódio de 2002 e o atual. Em 2002, a liquidez aumentou porque os investidores achavam que havia um risco de crédito relevante em jogo - ou seja, a possibilidade de calote da dívida pública. Agora, a aversão é a um risco de mercado, a variação dos juros. E a causa é um fator externo: as incertezas sobre a evolução dos juros nos Estados Unidos.

Uma parte do aumento da liquidez se deve à estratégia do Tesouro de colocar títulos prefixados em mercado. Em 2002, o Tesouro não conseguia colocar papel, mas agora pode se dar ao luxo de escolher.

O governo insiste na política de fazer resgates líquidos de papéis pós-fixados, fato que de um lado provoca aumento da liquidez, mas de outro melhora o perfil da dívida. Ou seja: embora liquidez esteja maior, o que abre uma porta para a corrida a ativos reais em caso de crise, o governo passa a ter uma dívida com perfil mais robusto para enfrentar crises. O mesmo raciocínio se aplica à compra de dólares, que, ao mesmo tempo em que aumenta a liquidez na economia, fortalece as reservas internacionais.