Título: IGP-M dobra, mas câmbio leva projeções de 2007 para 4%
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Brasil, p. A5

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) subiu 0,37% em agosto. Apesar de ter sido mais do que o dobro do resultado de julho, a variação acumulada em 12 meses permanece em um nível baixo, de 2,43%. A expectativa de um IGP-M confortável no fim de 2006, aliada a projeções que contam com um câmbio ainda valorizado e pouca pressão da demanda interna, faz com que os economistas esperem uma inflação ao consumidor na casa dos 4% para o próximo ano - número abaixo da meta oficial do governo, que é de 4,5%.

O IGP-M, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) baliza uma série de tarifas e serviços, como telefonia fixa, energia elétrica e aluguéis. Quanto menor ele for este ano, menor será sua influência em 2007 nos preços ao consumidor. Otávio Aidar, economista da Rosenberg & Associados, ressalta que neste ano o IGP já trouxe um bom alívio aos preços, uma vez que as tarifas de energia e telefonia foram reajustadas para baixo. "Isso não teremos no ano que vem, mas também não veremos altas de 20% como em outros anos", diz.

A pressão dos preços administrados está se enfraquecendo e a tendência é de que isso continue ocorrendo, tanto devido a IGPs mais baixos, como também pela troca de alguns indexadores. A partir de 2007, o reajuste da telefonia fixa, por exemplo, será feito em cima do Índice de Serviços de Telecomunicações (IST). Até o ano passado, isso era feito por meio do IGP. Neste ano, o percentual acertado foi o resultado de seis meses da variação do IGP e outros seis do IST.

O resultado do IGP-M de agosto ficou acima da expectativas de muitos analistas, mas não preocupa. O economista Salomão Quadros, responsável pela pesquisa da FGV, diz que não há nenhuma pressão de preços preocupante. Para ele, a elevação de 0,37% em agosto apenas corrige um excesso de desaceleração da inflação que ocorreu nos meses anteriores. "O percentual que verificamos neste mês é muito mais condizente com a realidade inflacionária do país do que a alta de 0,18% medida em julho", diz. E, completa Quadros, "muito mais compatível com uma inflação na casa dos 4% ao ano".

O resultado de agosto foi bastante influenciado pelo aumento dos preços agrícolas. Pelos cálculos de Aidar, da Rosenberg & Associados, a variação positiva de 0,71% dos preços agrícolas vendidos no atacado foi responsável por praticamente a metade do IGP-M total: 0,18 ponto percentual. A maior pressão de alta veio dos alimentos. O Índice de Preços ao Atacado (IPA) como um todo avançou 0,46%. Só a alta nos preços dos bovinos, impactou esse indicador em 0,25 ponto percentual. O aumento desses preços é explicado pela entressafra desta época do ano. Os industriais por sua vez, subiram 0,39%.

Há quem já projete até mesmo deflação para o IGP-M de setembro, como Carlos Thadeu Gomes Filho, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, a pressão exercida pelo grupo das carnes (suínas, bovinas e aves) será menor. Além disso, ele aposta na reversão da alta do preço do álcool combustível e na queda do valor do querosene, pois a Petrobras anunciou uma redução de 4,95% nos preços desse produto a partir de amanhã. Na avaliação de Quadros, o câmbio continua a exercer papel de âncora para a inflação. Mas, agora, como tem oscilado pouco, não leva a inflação nem para cima nem para baixo.

Um produto que ainda pode pressionar este ano é a gasolina. Os economistas não descartam uma elevação nos preços desse combustível após as eleições. "Se isso ocorrer, haverá impacto no IGP não só neste, mas no próximo ano também", avalia Aidar. Mesmo assim, o economista mantém sua projeção de alta de 3,7% para o IGP-M.