Título: Derrota em 2002 foi causada por baixo crescimento nos anos FHC, diz Alckmin
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Política, p. A9

As críticas do candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, antes limitadas ao seu principal adversário na disputa, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acabaram respingando em seu próprio partido. Ao comentar ontem a derrota de José Serra - candidato ao governo do Estado de São Paulo - para Lula nas eleições presidenciais de 2002, Alckmin disse que o revés tucano foi um recado das urnas por conta do baixo crescimento econômico do país no governo de Fernando Henrique Cardoso. "O Serra não perdeu em 2002 porque se impôs como candidato, perdeu porque o país não cresceu. Foi um recado das urnas", disse Alckmin, durante sabatina no jornal "O Globo".

Apesar de ressaltar a estabilidade econômica como uma conquista do governo tucano, o candidato classificou essa estabilidade como um pré-requisito. "O que interessa é que o país cresça", afirmou o candidato. "A população queria uma esperança de que o país pudesse ter um crescimento mais forte, o que acabou frustrando".

Alckmin desafiou o presidente Lula a comparecer aos debates para explicar como pretende garantir o crescimento do país nos próximos anos. Na avaliação do tucano, que se disse confiante que chegará ao segundo turno, Lula "foge do contraditório" e só gosta de "monólogos". "Meu adversário começou a atacar porque sabe que vai ter segundo turno. E o segundo turno é uma nova eleição. Ele terá grande dificuldade. Por isso, o esforço enorme de evitar o segundo turno. Ele foge do contraditório. Só gosta de monólogo. Gosta de falar e ser ouvido", disse Alckmin.

"A diferença é de doze pontos. É só virar seis pontos que já tem segundo turno. Como uma parte do eleitorado não vota, é virar quatro ou cinco (...). Como eleger um governo que do ponto de vista ético foi um descalabro, uma lista telefônica de corrupção?", questionou.

O candidato justificou o desempenho de Lula nas pesquisas de intenção de votos - que garantem a vitória do petista no primeiro turno - ao que chamou de "recall". As últimas sondagens apontam uma estagnação da candidatura tucana. Alckmin lembrou que Lula já concorreu seis vezes à Presidência e faz "uma utilização despudorada da máquina pública" para tentar se reeleger.

"Ele não está fazendo economia para o PT. Está roubando dinheiro do povo", acusou. "A questão do PT é roubo, é desvio de dinheiro público", completou. Segundo Alckmin, Lula está fazendo uma campanha desigual ao utilizar o horário eleitoral gratuito de senadores e deputados federais, na TV, para fazer campanha. "Isso é uma invasão. É errado o que o PT está fazendo. Eu faço campanha terça, quinta e sábado e Lula faz campanha todos os dias da semana".

Alckmin alertou para o que chama de "risco e o custo PT" na economia brasileira. De acordo com o tucano, a política fiscal e monetária do governo Lula são frouxas e sobrevalorizam a moeda brasileira. O cenário atual, para o candidato, é preocupante. "Não sou Cassandra do apocalipse, mas o quadro é difícil. O governo do PT pegou a carga tributária que já era alta e elevou ainda mais, sem necessidade. Não tem uma medida de governo para conter gastos. Vou trabalhar para cortar gastos. Se a sua moeda corre risco, tem que defendê-la, mas não é o caso. É o custo e o risco PT, e o povo brasileiro paga a conta", afirmou Alckmin, acrescentando que o partido de Lula abandonou a agenda do crescimento.

Ao comentar o programa de governo do PT, Alckmin classificou o texto como um "engodo" que vai aumentar ainda mais os gastos públicos. "A receita deles é aumentar gastos, aumentar impostos e cortar investimentos", disse. "Meu adversário não tem programa, tem um livrinho". (Colaborou Ana Paula Grabois, do Valor Online)