Título: Negociação de 2007 incomoda oposição
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2006, Política, p. A9

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, foi duramente criticado pela oposição, ontem, por se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), para discutir a proposta de uma "concertação política" com os partidos em torno de uma agenda legislativa para o próximo ano, que inclua pelo menos três pontos: reforma política, mudanças nas regras de tramitação do Orçamento da União e fim da reeleição para chefes do Poder Executivo.

"O ministro (Tarso Genro) deve ser processado por crime eleitoral. Veio fingir que o governo acha que já ganhou as eleições e criar um fato consumado. Ou seja, veio fazer propaganda no bojo do cargo público, dentro de um órgão público, saindo de outro órgão público. Veio fazer comício para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aqui dentro", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), questionou as credenciais de Renan como interlocutor das oposições, disse que o governo não tem "legitimidade moral" para propor acordos com os partidos e, como Virgílio, concluiu que o ministro está querendo tornar a reeleição um fato consumado. Ele classificou o comportamento do ministro de "cinismo" e "farsa".

"O Renan não representa nenhum dos partidos de oposição. O ministro vem e monta uma farsa política. Antes de falar em concertação, o presidente Lula tem que, primeiro, ganhar as eleições e, segundo, o governo tem que se consertar, se legitimar moralmente. O presidente tem que fazer um mea culpa, fazer a condenação dos envolvidos nos escândalos e dizer quem é traidor ou é companheiro", afirmou Tasso. "O cinismo é maior que a prepotência e a arrogância", disse o senador tucano.

O ministro negou que estivesse negociando um acordo com a oposição pressupondo que Lula terá mais quatro anos de mandato. Segundo ele, a idéia do governo é tentar um acordo com a oposição em torno de uma agenda congressual para ser votada a partir do próximo ano, contribuindo para a "desobstrução do processo político no país e para que o próximo presidente, seja ele quem for, tenha condições de estabilidade e governabilidade superiores às que foram obtidas até agora".

Mesmo considerando "erro político" qualquer "atitude consagradora de vitória", o ministro se traiu pouco depois. "O presidente Lula tem uma visão de que seu próximo governo deva ser um governo de partidos e de coalizão, que deve operar a solução de alguns temas importantes como a reforma política, através de negociação com a oposição", disse.

O termo concertação lembra a frente de centro-esquerda que governa o Chile desde 1990.