Título: Lula rebate FHC e diz que ele está "fora do cenário político"
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2006, Política, p. A11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem à noite, em Varginha, no interior de Minas Gerais, a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem as irregularidades cometidas pelos petistas no governo criam condições para o impeachment do presidente. "Eu não posso levar a sério o que o ex-presidente está falando, porque me parece que ele está um pouco fora do cenário político neste momento", disse Lula, em rápida entrevista ao chegar ao Aeroporto de Varginha onde participou de um comício de campanha eleitoral na praça central da cidade, com 10 mil pessoas, segundo a PM.

Felipe Varanda/Folha Imagem Lula: "Alguns governadores pretendem manter a chamada guerra fiscal" Lula disse esperar que a campanha eleitoral transcorra em clima de tranqüilidade para não afetar a governabilidade no próximo mandato. "A única coisa que eu quero é que a eleição se dê num clima de tranqüilidade para que quem quer que seja eleito presidente da República possa construir uma base de apoio e governar este país com tranqüilidade", disse.

Lula chegou com duas horas de atraso ao aeroporto, onde era esperado pelo vice-presidente José Alencar e um grupo de 50 prefeitos da região, além do candidato a governador do PT em Minas Gerais, Nilmário Miranda, e o candidato do PMDB ao Senado, Newton Cardoso, que o apóiam no Estado.

Durante o comício, um pequeno grupo composto por cerca de 50 estudantes do Colégio Marista de Varginha, infiltrados no meio de uma multidão com dez mil pessoas que aplaudiam o presidente na praça central da cidade, protestaram contra a presença de Lula. O grupo de estudantes reclamava das condições da educação no país e vaiava o presidente. Os estudantes ostentavam oito faixas e cartazes com dizeres contra Lula, como " Lula não. Abaixo a corrupção " e " Fora Lula " , mas não houve violência contra eles.

De manhã, no Rio, Lula atribuiu aos governadores e ao Congresso Nacional a dificuldade do governo federal em aprovar medidas que desonerem a produção e as pequenas e médias empresas. Em entrevista à "Rádio Tupi", Lula afirmou que o governo deu entrada no Congresso, em abril de 2003, com o projeto de reforma tributária, que acabou não indo adiante, segundo ele, porque a parte pertinente aos Estados - reduzir as alíquotas de ICMS de 27 para cinco - até agora não foi votada. "Foi votada a parte do governo federal. Mas a outra parte ainda não foi votada porque alguns governadores pretendem manter a chamada guerra fiscal e não querem fazer isenção", disse Lula.

O presidente também lembrou que enviou dois projetos de lei referentes às micro e pequenas empresas para reduzir impostos e diminuir a burocracia na abertura e fechamento de novos empreendimentos, mas que até agora os projetos ainda tramitam no Congresso: "Essas coisas estão no Congresso para serem votadas. Nós vivemos num regime democrático, em que você manda as coisas para o Congresso Nacional e ele tem o seu tempo para votar".

Lula admitiu ainda que, como percentual do PIB, a carga tributária ainda é alta: saiu no governo passado de 26% e subiu para 35%, mantendo-se no mesmo patamar até hoje. Lula reafirmou seu compromisso com a camada mais pobre da população e disse que, se for reeleito, vai continuar com a política de desoneração dos produtos de consumo popular. "A minha maior preocupação é com a camada mais pobre da população, que paga o imposto indireto. Por isso resolvemos desonerar os produtos de consumo populares. O alimento está mais barato hoje. Essa política está na prática cotidiana e vai estar no próximo governo".

Durante a entrevista, sem citar o nome dos prefeitos Cesar Maia (PFL) e José Serra (PSDB), Lula criticou as prefeituras do Rio e de São Paulo pela baixa adesão ao programa de inclusão social de jovens do governo federal. Segundo o presidente, foram oferecidas 42 mil vagas para o Rio de Janeiro, mas apenas 9 mil jovens estão cursando o programa. Em São Paulo, foram disponibilizadas 30 mil vagas e só há 7 mil inscritos. (Com agências noticiosas)