Título: Custo de captação espanhol é recorde da era do euro
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Fonte: Valor Econômico, 15/05/2012, Finanças, p. C3

Os custos de captação referenciais da Espanha, comparativamente aos da Alemanha, saltaram ontem para seu nível mais alto desde o início da zona do euro, na medida em que os investidores continuavam a reagir negativamente à quarta tentativa por parte de Madri, desde o princípio da crise, de reformar seu problemático setor bancário.

O custo adicional (spread) dos bônus espanhóis de 10 anos comparativamente aos bunds alemães alcançou a alta recorde da era do euro de 486 pontos-base, ultrapassando o recorde fixado em novembro.

Os rendimentos do título referencial espanhol alcançaram o pico de 6,30%, enquanto a taxa dos bunds alemães de 10 anos estava em sua baixa recorde de todos os tempos, de 1,44%.

O salto dos custos de tomada de empréstimos na Espanha se seguiu à quarta tentativa do país de fortalecer seu sistema bancário, anunciada na sexta-feira. As instituições financeiras foram obrigados a levantar mais € 30 bilhões em provisões.

Os analistas receberam bem a iniciativa de obrigar os bancos a aceitarem duas auditorias independentes de ativos imobiliários e o recuo em relação à recusa anterior de que qualquer banco receberia mais recursos governamentais de socorro financeiro. Mas não aceitaram o argumento de Madri de que a mais recente lei será definitiva.

"Depois que esta nova regulamentação foi aprovada, apenas três meses após a última, acreditamos ser justo nos perguntarmos, mais uma vez, se esta é a última partida da série", disse Juan Pablo López, analista do setor bancário do banco de investimento Espírito Santo. "Acreditamos que provavelmente mais coisas serão feitas, embora a situação pareça mais administrável após a nova lei."

Por outro lado, a Espanha vendeu ontem € 2,9 bilhões em letras do Tesouro de 12 e 18 meses. Os custos de captação das primeiras subiram de 2,623% para 2,985%, comparativamente ao último leilão do gênero. No caso do título de 18 meses, a taxa teve um aumento de 3,110% para 3,302%.

Os bancos espanhóis divulgaram no fim de semana informações sobre o montante que terão de assumir em novas provisões em decorrência da mais recente reforma bancária.

O Banco Santander, a maior instituição financeira da Espanha em termos de ativos e a mais valiosa da zona do euro, disse que fará uma reserva de € 2,7 bilhões em novas provisões, que pagará com os recursos gerados pela venda de sua divisão colombiana e pela retenção de lucros. Acrescentados aos € 2,3 bilhões gerados pelas atuais provisões em curso, o Santander precisará pagar um total de € 5 bilhões por absorver até o final do ano, com a soma depois dos impostos alcançando € 2,9 bilhões.

Para cumprir a última rodada de provisionamento obrigatório, o BBVA, segundo maior banco do país, disse que elevará suas provisões em cerca de € 1,8 bilhão, que ficariam reduzidos a € 1,3 bilhão depois dos impostos, enquanto o Banco Popular precisa de € 1,7 bilhão, que, segundo disse, serão absorvidos por meio de suas próprias reservas e de lucros periódicos.

O Caixabank precisa fazer uma reserva estimada em € 2,1 bilhões em novas provisões, ou o equivalente a € 1,5 bilhão após os impostos. No caso do Bankia, que foi parcialmente nacionalizado na semana passada, o montante necessário é de € 4,7 bilhões antes dos impostos.

As bolsas caíram nos principais centros financeiros da Europa. O índice Ibex 35, referência do mercado acionário de Madri, encerrou o pregão com depreciação de 2,66%. As ações do setor bancário estiveram entre as perdas mais expressivas do pregão. A ação do Bankia desabou 8,93%, seguida pelos papéis de Caixabank, que recuaram 3,84%, e BBVA, que tiveram perda de 3,72%.

Michala Marcussen, diretora mundial de economia do Société Générale, disse que os mercados estavam reagindo ao tríplice problema da Grécia, da Espanha e das novas estimativas da Comissão Europeia para a economia.

Mas ela observou que a intensidade da reação do mercado de ontem foi surpreendente, em vista de que os problemas do sistema bancário da Espanha e a fragilidade das finanças públicas vinham "cozinhando há algum tempo", enquanto que a situação da Grécia também não era nova. "Quem esperava, na verdade, que a Grécia aprovasse um novo governo durante o fim de semana?", disse.

Os analistas afirmam que, se os rendimentos referenciais da Espanha voltarem a alcançar o nível de 6,5%, isso pode acabar por desencadear alguma medida do Banco Central Europeu (BCE). O BCE poderia, por exemplo, decidir retomar a compra dos títulos soberanos, segundo o previsto em seu programa para os mercados de papéis.

"Mas o BCE não pode solucionar esta crise sozinho. Muitas pessoas estão se recusando a dar ouvidos ao recado de que a questão é implementar uma solução confiável para as finanças públicas e para a economia como um todo", afirma Marcussen.

Por outro lado, na Itália, o governo captou com sucesso um total de € 5,25 bilhões em leilão. Roma vendeu € 3,5 bilhões de bônus de três anos, ao rendimento médio de 3,91%, abaixo do preço de mercado de cerca de 4%. A Itália também comercializou três bônus de 8 a 13 anos de emissão mais antiga, de menor liquidez em relação às recentes.