Título: Redes de hotéis aumentam investimento na Argentina
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2006, Empresas, p. B1
A Argentina vive um "boom" de construção de hotéis. Os investimentos em construção de hotelaria turística aumentaram de US$ 322 milhões em 2004 para US$ 456 milhões em 2005, um aumento de mais de 40%, segundo dados da IES Consultora Investigaciones Economicas Setoriales.
Os projetos anunciados neste ano apontam investimentos futuros de mais de US$ 1,4 bilhão em cerca de 200 estabelecimentos. Entre os novos hotéis que estão sendo construídos por várias cadeias, oito estarão em Buenos Aires, três na região vinícola de Mendoza, três em Ushuaia, três em Calafate, na Patagônia, quatro na província de Salta, três em Córdoba e três em Rosário.
A cadeia Hilton incorporou três novas marcas de hotéis na Argentina e, segundo o levantamento da IES, estão previstos investimentos da ordem de US$ 400 milhões na região das cataratas do Iguaçu, na fronteira com o Brasil, com 11 novos empreendimentos na categoria quatro e cinco estrelas (os mais importantes das cadeias Hilton e Hyatt). Além disso, a cadeia Howard Johnson anunciou que vai inaugurar seis hotéis neste ano, nas regiões de Jujuy, Barrio Norte, Pilar, Salta Villa María e Alta Gracia.
O movimento de turistas é principal motivo do maior interesse dos investidores. De acordo com a última Pesquisa de Turismo Internacional divulgada no final de agosto pelo Indec (o IBGE da Argentina), 1,5 milhão de pessoas passaram pelo aeroporto internacional de Ezeiza como turistas em 2004, número que subiu para 1,787 milhão em 2005 e já atingiu 1 milhão só no primeiro semestre de 2006. Estima-se que a entrada de turistas estrangeiros no país deva chegar a 2,2 milhões de pessoas até o fim de 2006, que vão gastar perto de US$ 3,9 bilhões.
No segundo trimestre deste ano, entraram na Argentina 445,3 mil turistas estrangeiros, 19,6% a mais que no mesmo período de 2005. Metade deles, quase 220 mil, ficou hospedada em hotéis quatro e cinco estrelas, segundo os registros do governo (ver tabela abaixo). Os brasileiros eram 18,5% do total, o segundo maior grupo depois dos europeus. Dos 82,4 mil compatriotas que visitaram os principais centros turísticos argentinos, 55 mil ficaram hospedados em hotéis de quatro e cinco estrelas.
Não é para menos. Com o câmbio favorável (com um dólar se compra três pesos argentinos), a capital Buenos Aires, a mais "européia" da América Latina, está extremamente barata e acessível. Um almoço à base da melhor carne argentina para cinco pessoas, com fartura e direito a cerveja, entradas e cafés, pode custar 100 pesos (20 pesos por pessoa) em muitos restaurantes bons. Ou seja, cerca de R$ 15 a R$ 20 por pessoa.
Os argentinos sabem da importância de tratar bem os turistas e os brasileiros em especial. Em várias lojas na Calle Florida, tradicional centro comercial, muitos lojistas arriscam o portunhol para atrair os centenas de brasileiros que por ali têm passado todos os dias. Eles só perdem a boa vontade se o assunto for futebol, principalmente com brasileiros que insistem em lembrá-los que somos pentacampeões.
Mas a expansão hoteleira também está inserida no contexto da indústria da construção civil argentina que nunca esteve tão forte. Além de centenas de hotéis, há uma onda de construção de shoppings centers, apartamentos residenciais, casas e escritórios. Segundo o relatório da IES, a construção de edifícios para outros usos que não o residencial (principalmente industrial e comercial) acumulou alta de 26,5% no primeiro semestre de 2006 comparado com o mesmo período de 2005, sendo que só no mês de junho cresceu 31,7%.
Segundo o economista e consultor Daniel Montamat, da Montamat & Associados, a indústria da construção está absorvendo investimentos de argentinos ricos que estão aplicando mais em imóveis depois da péssima experiência que tiveram com o mercado financeiro na crise de 2001 em que perderam suas economias com o corralito e com instituições que quebraram ou deixaram o país.