Título: Clones de bebês de verdade podem ser comprados por até R$ 3 mil
Autor: Fontoura, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2006, Empresas, p. B4

Com algumas fotos enviadas pelo correio ou internet, Monickie Zurbanjos começa seu trabalho. Ela entra na rede e escolhe entre milhares de modelos o rosto com o formato mais parecido, os olhos da mesma cor, o tipo de cabelo. Em cerca de um mês, a cliente recebe a encomenda: uma boneca igualzinha à foto. Uma espécie de clone de um bebê de verdade.

Monickie, de 21 anos, especializou-se na arte do "reborn", uma técnica de reproduzir bebês de verdade com o máximo de perfeição. Seu trabalho, porém, não é só juntar as peças que vêm de fornecedores nos Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido. No seu quarto, transformado em ateliê, ela usa tintas especiais importadas para criar as expressões e tornar o rosto do bebê parecido com o da foto. Após cada pintura, a boneca vai para o forno da própria cozinha de sua casa. "O processo de pintura leva dez camadas de tinta", conta. "Tem vezes que o forno fica cheio de cabeças, pernas, braços."

Com rotina apertada entre o trabalho como coordenadora administrativa de uma empresa e o curso de Comunicação Social, ela faz as bonecas à noite e não se acanha em levar trabalho para os intervalos. "Levo as cabeças carecas e o cabelo para montar no caminho", conta. "Tem gente que olha, fica com aflição e até se assusta."

Uma pesquisa na internet leva a vários sites de pessoas que fazem o mesmo trabalho de Monickie em todo o mundo. Também estão disponíveis informações sobre a técnica, os materiais e onde comprá-los. Interessada por pintura e escultura, no começo do ano passado, ela leu tudo sobre a técnica e comprou o material pela internet, mas a primeira tentativa não deu certo. "Só na segunda vez, consegui acertar e a boneca ficou linda", conta. A partir daí, as pessoas próximas começaram a fazer encomendas. "Eu nunca achei que teria mercado porque é um produto caro", conta. Uma boneca feita por Monickie custa entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil. "Estou fazendo um bebê de 1 ano no tamanho natural."

Mas as encomendas não param. Desde que começou, ela já produziu e vendeu mais de 30 bonecas. E engana-se quem pensa que o público de Monickie é o infantil. "Minhas clientes são mulheres com idades entre 30 e 40 anos e também colecionadores", diz.

Entre as moças, há as que não têm filhos e as que querem reproduzir os rebentos que já cresceram e não param mais em casa. "Não recomendo para crianças porque não são bonecas para brincar", diz. "Se forem bem cuidadas, podem passar por gerações."

Agora, seu trabalho começa a atrair interesse de produtoras de TV. "Me procuraram porque precisavam de uma réplica de bebê e quando eu disse o preço acharam até barato, porque as empresas especializadas em bonecos e efeitos especiais do exterior cobram muito mais caro", conta.

Monickie acha que seu trabalho pode ser bem aproveitado para TV, cinema e eventos. "Fui contatada para fazer o menino Jesus que vai compor um presépio vivo em Florianópolis", diz.

Na internet, ela mantém um site com vários modelos e depoimentos dos clientes. Muitas vezes, são agradecimentos emocionados. No Orkut, maior comunidade virtual da rede, ela faz seu marketing e publica sua foto segurando uma cabeça de boneca. Isso sim, dá uma certa aflição. (CF)