Título: Fora da Esplanada, pertinho de Dilma
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2010, Política, p. 2

Eleições 2010 Lista de ministros que saíram em férias para ajudar a presidenciável petista na reta final é engrossada por Luiz Barreto, do Turismo; Paulo Bernardo, do Planejamento; e Eloi Ferreira, da Igualdade Racial

A tropa de choque petista ganhou reforço ontem com o pedido de férias de três ministros. Eloi Ferreira, da Igualdade Racial; Luiz Barreto, do Turismo; e Paulo Bernardo, do Planejamento, somaram-se a Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que pediu folga na última semana, e Alexandre Padilha, que entrou de licença no início do segundo turno. Agora, são cinco ocupantes de pastas do governo Lula oficialmente em férias atuando na campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

Os ex-colegas da petista têm agenda cheia nos redutos eleitorais nessa reta final da corrida presidencial. São responsáveis por mobilizar militantes e evitar a propagação do voto tucano. Com dedicação exclusiva, os novos cabos eleitorais evitam punições por parte da Justiça Eleitoral, ao contrário do presidente Lula, que desde o início da corrida eleitoral não poupa agendas casadas com a candidata e manifestações de apoio em horários impróprios. Em função disso, já foi multado sete vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral, num total de R$ 47,5 mil.

Depois da cerimônia de entrega de chaves de casas populares na última segunda-feira, o presidente deixou no Rio de Janeiro um batalhão de cabos eleitorais. O estado é considerado estratégico para a campanha presidencial. Além do governador reeleito Sérgio Cabral (PMDB), os petistas contam com o auxílio de dois ministros. Eloi Ferreira estava com o presidente no evento do Minha Casa, Minha Vida, bandeira eleitoral de Dilma. Foi sua última missão oficial. Ontem, o ministro passou o dia panfletando nas ruas da capital fluminense e à noite participaria de ato político organizado pelo movimento negro. A ministra da Secretaria Especial das Mulheres, Nilcéa Freire, também iria para a manifestação de apoio à Dilma.

Desta forma, não ficamos com um ambiente de constrangimento. Tenho mais de 40 dias de férias. Tiro licença agora, mas não para descansar. Estamos muito empenhados na campanha da ex-ministra, afirma Eloi, filiado ao PT-RJ desde 1994. Para ele, a participação de ministros em atos políticos garante credibilidade. As pessoas ficam mais confiantes porque quem está ali colabora para um governo que alcançou resultados positivos. Eloi ocupou a pasta com a saída de Edson Santos, que disputou a reeleição na Câmara dos Deputados. O ex-ministro também integra o grupo de apoio à petista. O ideal é tirar férias mesmo porque aí não há conflito de interesse, diz Edson. Hoje, os dois têm encontro marcado com servidores públicos e devem, ainda, participar de um evento na Central do Brasil.

Escalação Para tentar quebrar a hegemonia tucana em São Paulo, o ministro do Turismo, Luiz Barreto, foi acionado para engrossar a escalação do presidente Lula. Filiado ao PT, ele já foi secretário da Prefeitura de Osasco, de São Paulo, na gestão de Celso Pitta, e de São Vicente. Barreto entrou no ministério em 2007, como secretário executivo. Na gestão do presidente Lula, a pasta ganhou peso eleitoral pela quantidade de recursos liberados por meio de emendas parlamentares. Ontem, ele participaria de evento pró-Dilma. No domingo, foi até Rio Preto, no interior, para um ato político. O pedido de férias foi publicado no Diário Oficial e iria até 29 de outubro. Porém, no fim do dia, a informação era de que o ministro poderia interromper a folga. Além de uma reunião com Paulo Bernardo para discutir orçamento, Barreto deve visitar o Salão do Automóvel na sexta-feira.

O ministro do Planejamento já interrompeu suas férias em setembro. Paulo Bernardo foi chamado às pressas pelo presidente para conter a crise nos Correios e na Casa Civil, depois das denúncias envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra. Bernardo estava se dedicando à campanha da mulher, Gleisi Hoffmann, ao Senado. Agora, ele reforça a equipe de Dilma na Região Sul. Participou, na segunda-feira, de um encontro com prefeitos em Florianópolis e iria acompanhar a visita do presidente Lula em Curitiba.

Já o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi chamado depois do resultado do primeiro turno para integrar a equipe de coordenação. Ele é responsável pelos contatos com parlamentares e os movimentos sociais. Até o fim da semana, os ministros-cabos eleitorais vão participar de diversos eventos da campanha. A maioria retorna ao posto após o feriado.

Representações por propaganda antecipada

Duas representações contra ministros de Estado estão em tramitação na Justiça Eleitoral. Para a Procuradoria-Geral Eleitoral (MPE), Nilcéa Freire, da Secretaria Especial das Mulheres, e José Gomes Temporão, da Saúde, fizeram propaganda eleitoral antecipada para a candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff. Nas ações, a vice-procuradora Sandra Cureau pede aplicação de multa também à presidenciável.

A chefe da Secretaria foi acusada de produzir livros, cartazes e uma cartilha que incluía um discurso de seis páginas de Dilma, pedindo voto para mulheres. O material foi feito com recursos de um convênio com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A Secretaria para Mulheres, vinculada à Presidência, distribuiu 215 mil cartilhas, 3 mil livros e 20 cartazes defendendo mais mulheres no poder. O material começou a ser enviado em junho a partidos políticos e parlamentares.

Depois de multado pela Justiça, o ministro Temporão entrou com recurso no TSE questionando a ação do MPE. Segundo a Procuradoria Eleitoral, ele fez propaganda antecipada durante a inauguração do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em 7 de março, no Rio de Janeiro. Ainda não houve decisão. O tribunal julgou improcedente uma ação do MPE que apontava irregularidades na conduta do ministro da Cultura, Juca Ferreira.

A Advocacia-Geral da União (AGU) publicou cartilha orientando os ministros sobre condutas proibidas no período eleitoral. Entre elas, a participação em eventos e inaugurações de obras públicas. Não há, entretanto, propostas que relacionem férias de ministros com a campanha presidencial. A Comissão de Ética Pública, ligada à Presidência, que participou da redação do manual, ainda não recebeu denúncias sobre a participação de chefes das pastas nas eleições. (AR)