Título: Lucro das seguradoras é de R$ 4 bi no semestre
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2006, Finanças, p. C1

As seguradoras nunca lucraram tanto. No primeiro semestre, o lucro líquido não consolidado do setor ficou em R$ 4,1 bilhões, alta de 16% em relação ao mesmo período de 2005. Considerando apenas o resultado das coligadas e controladas, o crescimento foi de 70%, para R$ 2 bilhões. A rentabilidade patrimonial anualizada ficou em 25,63%.

Um dos principais destaques foi seguro saúde. Depois de um prejuízo de R$ 458 milhões de janeiro a junho do ano passado, as seguradoras tiveram um lucro de R$ 106,7 milhões este ano com o segmento, mostra um levantamento preparado pelo consultor especializado em seguros, Luiz Roberto Castiglione, com base em números da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). "O seguro saúde continua surpreendendo", destaca. Juntos, o segmento de saúde e autos responderam por 51% dos prêmios.

A melhora dos resultados do setor de seguros, avalia o consultor, é resultado de uma política de redução de gastos e uma melhora da definição de preços das apólices. A sinistralidade (que mede o quanto das receitas das seguradoras é comprometido com o pagamento de apólices) caiu cinco pontos percentuais, para 63%.

A campeã em lucro foi a Bradesco Seguros, com resultado líquido de R$ 1,04 bilhão, alta de 30% em relação ao primeiro semestre de 2005. Em termos de crescimento, a SulAmérica ficou entre as seguradoras com a maior variação: o lucro subiu 213,5%, para R$ 100 milhões. Na Porto Seguro, o resultado dobrou e foi a R$ 181,9 milhões.

No seguro saúde, Castiglione cita três fatores que contribuíram para a melhora dos resultados: o fim da venda de apólices para pessoas físicas em grandes seguradoras, como a Bradesco e a SulAmérica; um maior controle de gastos e reajustes mais favoráveis de preços. Seguradoras como AGF e SulAmérica têm ainda programas de prevenção à doenças.

"O mercado (de seguro saúde) conseguiu encontrar seu ponto de equilíbrio", diz o presidente da SulAmérica, Patrick de Larragoiti Lucas.

No Bradesco, os planos individuais chegaram a representar 48% da carteira. Hoje, é 27%, valor que deve cair ainda mais. Na SulAmérica, esta carteira está sendo negociada com a Golden Cross. Segundo fontes próximas a operação, faltaria apenas a aprovação da ANS.

Com o maior controle de custos, principalmente por programas de prevenção a doenças, a sinistralidade do ramo saúde caiu 12,2 pontos percentuais, para 85,4%. A queda gera uma "economia" de R$ 498 milhões. Segundo Castiglione, boa parte desta melhora está associada ao desempenho da SulAmérica.

No setor de seguros, os custos administrativos representaram 13% dos prêmios ganhos no semestre. No passado, já chegou a representar 20%. Para Castiglione, com a queda dos juros básicos, os custos terão que ser reduzidos ainda mais. No Bradesco, a seguradora está sendo administrada este ano com a mesma estrutura de custos de 2003, sem correção monetária.

Uma das formas encontrada para reduzir custos foi a terceirização. Para Jorge Abel Perez, principal executivo do Bureau de Serviços de Seguros (BSS), que presta serviços para companhias como Porto, HDI, Mapfre e Marítima, foram as seguradoras estrangeiras que disseminaram esta cultura aqui, com a determinação das matrizes para reduzir custos.

Os próprios balanços das seguradoras, avalia, refletem os resultados. "Quem terceiriza, tende a ter lucro maior, pois se concentra na atividade de seguros". A BSS tem 11 clientes e oferece serviços como gerenciamento de processo de sinistros e ouvidoria.

Só a Porto Seguros economiza cerca de R$ 20 milhões por ano com a contratação de uma empresa para a guarda de seus documentos. A escolhida foi a Keepers Brasil, especializada nesta atividade. Só o galpão da empresa em Barueri (grande São Paulo) tem 25 mil metros quadrados e nada menos que 1,5 milhão de caixas, com papéis de várias seguradoras. Para a Itaú Seguros, há uma área exclusiva, com 20 funcionários. A Keepers tem 300 clientes e fatura R$ 20 milhões.