Título: Com dinheiro em caixa, exportador reduz a demanda por empréstimos
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2006, Finanças, p. C2

O financiamento de curto prazo à exportação neste ano tem crescido a um ritmo menor do que as vendas externas do país. No banco líder, o Banco do Brasil, com 26,8% do mercado de câmbio contratado, o total de crédito de até um ano concedido de janeiro a agosto deste ano ficou estável em relação aos primeiros oito meses do ano passado, em US$ 8,11 bilhão. No mesmo período, as exportações brasileiras tiveram aumento de 15,2%.

É verdade que o Bradesco, o segundo colocado no mercado de câmbio contratado, com fatia de 23%, teve crescimento de mais de 25% no financiamento de curto prazo à exportação na média mensal do ano passado na comparação com este ano, até 23 de agosto. Fechou US$ 7,523 bilhões em Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACCs), que é tomado antes do embarque, e Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACEs), pós-embarque. Ganhou mercado, portanto. Mas, considerando-se o BB e o Bradesco, o aumento foi de cerca de 12%, enquanto as exportações cresceram 15%.

"Os maiores exportadores estão com muito dinheiro em caixa e nem sempre precisam usar a performance de suas exportações para obter crédito de mais curto prazo", disse o diretor do Bradesco, José Guilherme Lembi de Faria. Por isso, segundo ele, muitos têm preferido fechar o câmbio pronto só quando a cotação se torna favorável, afirma. "A liquidez das maiores empresas é grande e seu fluxo de caixa está confortável, o que reduz a necessidade de capital de giro e permite às suas tesourarias esperar o melhor momento para ingressar com os recursos no país", concorda Nilo José Panazzolo, diretor de comércio exterior do BB.

Não é à toa que, no BB, o crescimento no total de câmbio à vista contratado foi de 23% de janeiro a julho de 2006 na comparação com 2005, de US$ 12,19 bilhões para US$ 15 bilhões. É importante lembrar que parte desse aumento se deve às compras do Tesouro Nacional, que atua na ponta de compra muitas vezes pelo BB. Mas, também no Bradesco, o câmbio à vista contratado cresceu 18%, mais do que as exportações, portanto, neste ano até 23 de agosto na média mensal em comparação com 2005. O Bradesco fechou US$ 13,2 bilhões em câmbio à vista de janeiro até 23 de agosto.

Os ACCs e ACEs , que já foram uma coqueluche nacional, se tornaram menos atrativos também por causa da impossibilidade de ganhos das empresas com arbitragem, lembra Luiz Campiglia, diretor do Itaú BBA. Antes, o exportador tomava financiamento de curto prazo e aplicava nos juros em dólar no mercado interno, ganhando a diferença. Hoje, os juros do financiamento são iguais ou até maiores do que as taxa pagas pelo investimento em dólar no mercado interno (cupom cambial). Por isso, esse tipo de operação de arbitragem não mais existe.

Os juros dos ACCs e ACEs estão em níveis baixos, em torno de Libor, a taxa interbancária de juros, mais 30 pontos básicos para empresas de primeiríssima linha que são "grau de investimento" - têm selo de investimento não especulativo - no prazo de 180 dias. Mas, o cupom cambial não fica acima disso.

Hoje, o exportador toma financiamento em dólar de curto prazo quando realmente precisa. Principalmente as empresas pequenas e médias usam esse instrumento para capital de giro. Nesses casos, o ACC e ACE continua imbatível por causa da cunha fiscal menor em relação, por exemplo, às antigas operações 63, lembra Lembi de Farias, diretor do Bradesco.

As grandes empresas, com sobra de caixa, são as que têm usado relativamente menos esse tipo de linha. Por isso, o volume de ACCs e ACEs do Itaú BBA, que diferentemente do BB e do Bradesco não atua com as empresas menores - tem como clientes os 1.100 maiores grupos empresariais do país- até caiu 5%, de US$ 683 milhões no primeiro semestre do ano passado para o total de US$ 650 milhões em 2006. A carteira total desse produto no banco, que chegava a US$ 1 bilhão quando ele nasceu, em 10 de março de 2003, está em torno de US$ 300 milhões hoje.

Com a melhoria no risco-Brasil e no rating das empresas, as maiores têm usado muito sua performance de exportação em financiamentos de mais longo prazo, como os pré-pagamentos, lembra Panazzolo. Há empresas que estão tomando pré-pagamentos estruturados até mesmo para financiar seus investimentos, diz ele. É o caso da Samarco, que é "grau de investimento" pela Fitch Ratings e acaba de tomar US$ 800 milhões em pré-pagamento para financiar investimentos de forma a aumentar sua capacidade de produção.

Também está crescendo a demanda por empréstimo à importação - o BB desembolsou um total de US$ 1,9 bilhão neste tipo de financiamento de janeiro a junho, com aumento de 36,5%. Até julho, o total desembolsado soma US$ 2,3 bilhões. Já no Itaú BBA, o crédito à importação cresceu 25% no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado.