Título: Justiça investiga Chalita por suposta compra de votos na eleição de 2010
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2012, Política, p. A9

O pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, deputado federal Gabriel Chalita, está sob investigação da Justiça por suposta compra de votos na eleição de 2010. O caso foi encaminhado para o Supremo Tribunal Federal (STF) no mês passado e o relator, ministro Celso de Mello, enviou o inquérito para a Procuradoria-Geral da República (PGR) analisar. O documento chegou na PGR na sexta-feira da semana passada.

De acordo com a investigação, um dos articuladores da campanha de Chalita em Osasco, João Candal, teria oferecido exames oftamológicos a eleitores na cidade, em um centro religioso. No núcleo de evangelização, o coordenador estocava material de campanha do então candidato. A denúncia liga a oferta de exames à tentativa de obter apoio a Chalita. Em depoimento, João Candal negou a compra de votos. O pemedebista disse não conhecer o cabo eleitoral de sua campanha em Osasco, nunca ter ido ao centro religioso e afirmou não ter oferecido benefícios em troca de votos. Afirmou que Candal foi indicado por um candidato a deputado estadual com quem fez dobradinha em 2010.

A apuração da suposta captação ilícita de votos começou a partir de uma denúncia anônima. Procurada, a assessoria de Chalita não quis se manifestar sobre o caso.

Chalita também é investigado por outra suposta irregularidade na campanha de 2010. Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral, ele teria sido beneficiado por ação eleitoral indevida de seu primo, Fabiano Chalita Vieira, prefeito de Cachoeira Paulista. Em evento na cidade, o prefeito teria pedido votos ao então candidato a deputado. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo considerou a denúncia improcedente, mas o Ministério Público recorreu. O caso foi para o TSE. Sandra Cureau, vice-procuradora geral eleitoral, deu parecer contra Chalita, em fevereiro deste ano, por entender que houve prática de conduta vedada, que beneficiou o então candidato.

Junto às investigações que podem afetar sua pré-candidatura, Chalita enfrenta um revés na Justiça, já que o Ministério Público Eleitoral deu parecer favorável, na segunda-feira, à cassação de seu mandato por infidelidade partidária. No entendimento da vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, Chalita trocou o PSB pelo PMDB sem justa causa.

Em 2011 Chalita filiou-se ao PMDB com a garantia de que iria disputar o governo municipal. Ao justificar a migração, o deputado alegou perseguição por dirigentes do PSB. O parecer tem de ser analisado pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas não há previsão para o julgamento.

O autor do pedido de cassação, deputado Marco Aurélio Ubiali, disse que os votos obtidos por Chalita "são do PSB", partido pelo qual se elegeu em 2010. "O PSB investiu muito na campanha de Chalita e deu mais tempo de televisão a ele. Não houve perseguição dentro do partido", afirmou. Segundo Ubiali, os diretórios nacional e estadual da legenda perderam o prazo para pedir a cassação do mandato do deputado e por isso ele ficou encarregado de reivindicar o cargo.

Ubiali é o primeiro suplente do PSB de São Paulo e assumiu o mandato no lugar de Márcio França, que foi para a Secretaria de Turismo do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). França é presidente do diretório estadual e é um dos dirigentes que Chalita acusa de perseguição.

Dentro do PSB o pemedebista enfrentou embates com dirigentes, inclusive com o presidente nacional da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Chalita queria ser líder da bancada, mas Campos articulou para que sua mãe, a então deputada Ana Arraes, ficasse com a função. O deputado queria comandar a Comissão de Esporte e Turismo da Câmara, mas o partido indicou Jonas Donizette (SP) para o cargo. Chalita também não conseguiu viabilizar um acordo em 2010 com o PT para compor uma chapa para disputar o Senado. As divergências tornaram-se constantes, segundo integrantes do PSB, e Chalita deixou a sigla em meio a um mal-estar com os dirigentes.

Antes do PSB, Chalita foi filiado ao PSDB e deixou a sigla após conflitos com o pré-candidato tucano à prefeitura paulistana, José Serra.