Título: País se opõe a mudanças no Fundo
Autor: Safatle, Cláudia e Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2006, Finanças, p. C3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega e seus colegas da Índia e da Argentina recomendaram a seus representantes no Fundo Monetário Internacional (FMI) que votassem contra a reforma do sistema de distribuição de voto tal como proposto e aprovado, na quinta-feira, pelo conselho diretor do Fundo. Pela medida aprovada, China, Coréia do Sul, México e Turquia terão mais peso nas decisões do FMI. Brasil, Índia e Argentina, que desejavam posições mais compatível com o tamanho e a importância de suas economias, foram voto vencido.

"Orientamos nossa diretoria a votar contra porque a reforma não nos assegurava uma posição mais robusta", explicou Mantega ao Valor. Na avaliação do ministro, os três países deveriam ser reconhecidos como mais importantes e, portanto, com maior peso em seus votos. "As coisas mudaram muito nos últimos 30 anos. Hoje, estamos entre as 15 maiores economias do mundo e temos que ser reconhecidos por isso. Mas a proposta do diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, até rebaixava nossa cota de 1,42 para 1,4", disse. Países como a Bélgica e mesmo a Lituânia, que têm Produto Interno Bruto (PIB) bem inferior , detêm a mesma posição em cota e em votos que o Brasil, Argentina e Índia.

O plano, aprovado pelo conselho diretor com apoio dos Estados Unidos e Canadá, será avalizado pelos 184 países membros do Fundo no dia 19, em Cingapura.

O representante da Índia no FMI, Bhabani Misra, também criticou a maneira como têm sido conduzidas as mudanças. Para ele, o Fundo deveria ter construído uma nova fórmula para definir o espaço de cada país dentro da organização antes de aumentar as cotas das quatro nações.

"A fórmula atual é totalmente falha e não há dúvida de que precisa ser revista", afirmou Misra . "Mas não creio que seja possível aprovar uma nova fórmula, porque ninguém abre mão de poder numa instituição como essa após tantos anos". Vários países europeus poderão ter suas cotas diminuídas com as novas regras.

Para Misra, a decisão de elevar primeiro as cotas de China, México, Coréia do Sul e Turquia foi "política". Na prática servirá apenas para ampliar o poder dos Estados Unidos e outros países ricos no FMI. "Se eles realmente acham possível obter uma nova fórmula de consenso, deveriam ter esperado para aumentar as cotas desses países só depois que a nova fórmula estivesse pronta", disse.

Cada país-membro do FMI detém uma cota no órgão que é determinada com base em seus indicadores econômicos. Quanto maior a contribuição ao FMI, maior é o peso do voto nas decisões. A mudança, portanto, corrige apenas parte das distorções no sistema de representação e peso dos países no Fundo.

De Rato disse, em entrevista recente em Washington, que o Fundo deverá passar por uma revisão fundamental do mecanismo de controle e governança, sinalizando a possibilidade da mais ampla reforma no Fundo desde sua criação na conferência de Bretton Woods nos Estados Unidos em 1944. Houve, desde então, grandes mudanças ocorridas no poder econômico global, especialmente depois da ascensão das economias emergentes da Ásia.

De Rato espera receber, na reunião de Cingapura, um mandato claro para implementar essa reforma. O primeiro passo foi a promoção dos quatro países. A segunda fase da reforma levaria mais dois anos.