Título: Romeu Tuma, 79 anos, senador
Autor: Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2010, Política, p. 8

Obituário Ex-delegado que chegou a prender Lula durante a ditadura militar sofre falência múltipla de órgãos após passar um mês internado por problemas cardíacos

Morreu ontem, de falência múltipla de órgãos, aos 79 anos, o senador Romeu Tuma (PTB-SP). Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde o mês passado e chegou a sofrer uma cirurgia para a implantação de um coração artificial. Tuma completaria seu segundo mandato este ano e disputaria novamente uma vaga no Senado, mas, por causa da internação, não pôde participar da campanha.

Apesar de ter feito carreira nos quadros policiais, incluindo o conturbado período de ditadura militar, Romeu Tuma era conhecido por ser um homem tranquilo, de fala mansa e cordial. Ele foi o primeiro e, até hoje, o único corregedor do Senado, onde também exerceu a Presidência da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. Ele tinha que ser sacerdote, bispo ou pastor, tinha tudo para ser um homem voltado à atividade social. Era um policial, um policial do bem, afirma seu colega Pedro Simon (PMDB-RS).

A carreira pública de Tuma começou em 1951, quando ingressou na carreira policial, aos 20 anos. Três décadas depois, como delegado, durante o regime de exceção, teve o primeiro contato com o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1980, na época de sindicalista, Lula estava preso e foi autorizado por Tuma a visitar a mãe em um hospital. Naquele ano, Tuma atuava no extinto Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops), onde Lula estava preso. Para que a mãe do sindicalista não soubesse que o filho estava preso, Tuma mandou dois policiais disfarçados de trabalhadores para acompanhá-lo. Depois de deixar o Dops, exerceu outros cargos na Polícia Civil paulista e, posteriormente, na Superintendência da Polícia Federal, onde tornou-se diretor-geral da corporação.

Naquele período, ganhou o apelido de Xerife, graças à atuação no início do Plano Cruzado, quando José Sarney era o presidente da República. Na época, Tuma usou a PF para confiscar bois que estavam sendo retidos nos pastos para provocar aumento no preço da carne. Logo depois, acumulou sua função com a de secretário da Receita Federal. Tuma demonstrou grande competência e habilidade na década de 1980, como diretor da Polícia Federal. Ajudou-me a conduzir a sensível questão da segurança no difícil trânsito entre um ambiente marcado pela exceção para outro, plenamente democrático e de respeito aos seres humanos, afirmou Sarney ontem, em nota de pesar. A admiração pessoal há longa data converteu-se em amizade, e essa extrapolou também para nossas esposas e nossos filhos, acrescentou o presidente do Senado.

Pessoa emotiva Apesar do apelido, Tuma era uma pessoa emotiva. Não foram poucas as vezes que o vimos transbordar lágrimas quando tratava de questões que atingiam sua alma, relata o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Tuma chegou ao Senado pela primeira vez em 1994 e, seis anos depois, disputou a prefeitura de São Paulo, ficando na quarta colocação, retornando ao Congresso em 2002.

Em nota, Lula lamentou a morte do delegado que um dia o prendeu: Romeu Tuma dedicou grande parte da vida à causa pública, atuando de forma coerente com a visão que tinha do mundo e, por isso, merece o reconhecimento e o respeito dos brasileiros, diz comunicado emitido pelo Palácio do Planalto.

O corpo do senador, que era casado com a professora Zilda Dirane Tuma, foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo. Ele tinha quatro filhos entre eles os ex-deputados Robson Tuma e Romeu Tuma Júnior e nove netos. Seu suplente é o secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo, Alfredo Cotait Neto, que ocupará o cargo até 1º de fevereiro de 2011.

Linha do tempo

Conheça um pouco da história do senador Romeu Tuma (PTB-SP)

1931 Em 4 de outubro, nasce, em São Paulo, Romeu Tuma

1951 Depois de se formar em direito na PUC de São Paulo, Tuma entra na Polícia Civil do estado

1977 Ingressa no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no qual permaneceu por cinco anos

1980 Autoriza o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, que estava preso sob sua custódia, a visitar sua mãe, hospitalizada

1982 É nomeado superintendente da Polícia Federal em São Paulo

1985 Torna-se diretor-geral da Polícia Federal

1992 Ainda na PF, é nomeado para comandar também a Receita Federal

1994 É eleito senador pelo PL de São Paulo

2000 Concorre à Prefeitura paulista, mas não é eleito

2002 É reeleito senador

2007 Deixa o PL e filia-se ao PTB

2010 Em setembro, é internado em decorrência de problemas cardíacos e morre um mês depois