Título: Grécia se prepara para novas eleições
Autor: Hope , Kerin
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2012, Internacional, p. A11

A Grécia se prepara para realizar novas eleições, após as fracassadas tentativas de seus partidos políticos de formar um governo de união nacional, devido à oposição do esquerdista Syriza, contrária ao pacote de resgate financeiro.

O presidente Karolos Papoulias não conseguiu aparar as diferenças entre o Syriza e os dois partidos pró-pacote, o Nova Democracia, de centro-direita, e o socialista Pasok. Será escolhido hoje um governo transitório para organizar a votação, prevista para 17 de junho.

A perspectiva de uma reação eleitoral mais forte contra as condições do pacote de socorro financeiro à Grécia, que pode por em risco a filiação ao euro do país já destituído de recursos, agitou os mercados financeiros.

As ações dos bancos europeus recuaram pelo segundo dia seguido, diante da queda vertical do índice do setor bancário FTSE Eurofirst para níveis inferiores aos da crise financeira de 2009. O indicador atingiu o patamar mais baixo desde o início da série, em 2004.

Os rendimentos dos bônus referenciais da Itália e da Espanha, de dez anos, subiram, para 5,83% e 6,3% respectivamente, com o receio de investidores de que a incerteza com a Grécia possa contagiar países maiores, mais importantes do ponto de vista sistêmico.

"Infelizmente, o país ruma para eleições sob condições muito negativas", disse o líder do Pasok, Evangelos Venizelos. Os socialistas ficaram em terceiro lugar nas eleições inconclusivas do dia 6, após os eleitores migrarem em massa em favor da Syriza, que promete reverter os cortes dos salários e aposentadorias impostos pelo segundo pacote de resgate da Grécia, de € 174 bilhões. O partido promete também reduzir o desemprego por meio da contratação de 100 mil novos funcionários públicos.

A Grécia enfrenta um aprofundamento da instabilidade política, pois a nova eleição tende também a não produzir um resultado claro. Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, alertou que uma saída da Grécia da zona do euro seria "bem complicada". Ela disse que, embora o fundo espere que isso não aconteça, "temos de estar tecnicamente preparados para tudo".

Alexis Tsipras, o líder do Syriza, acusou os partidos pró-euro de tentar chantagear os eleitores, na tentativa de levá-los a apoiar novas medidas de austeridade, e disse que seu partido "não trairá as esperanças e expectativas dos eleitores que rejeitaram o pacote de resgate financeiro". Cerca de 70% dos votos das eleições anteriores foram para partidos contrários à austeridade.

Uma pesquisa do instituto Rass indicou que o Syriza ficará em primeiro lugar nas próximas eleições e que a votação do partido subirá de 16,8% para 20,5%. Mas 54% dos entrevistados disseram que a Grécia deveria continuar a implementar as reformas pactuadas com a União Europeia (UE) e o FMI para permanecer na zona do euro.

Dirigentes de bancos de Atenas falaram de uma fuga de mais de € 5 bilhões em depósitos desde o dia 6, o que reflete a intensificação da incerteza política.