Título: Alckmin insiste que ocorrerá uma 'virada'
Autor: Agostine, Cristiane e Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2006, Política, p. A7

Em campanha no interior paulista, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, atribuiu ontem a dianteira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à reeleição, ao uso da máquina pública e insistiu que ocorrerá uma virada nas pesquisas nos dias anteriores ao primeiro turno. Ao criticar a política econômica de Lula, defendeu um "câmbio flutuante, porém administrado".

De manhã, em Sorocaba, atribuiu também o favoritismo de Lula ao fato de fugir dos debates, "ao contraditório". "Nessas últimas quatro semanas é que vai haver decisão maior de votos", afirmou. "O eleitor é sábio, maduro, não muda na primeira semana." O ex-governador lembrou que, quando disputou o Executivo paulista, só passou o candidato Paulo Maluf nas pesquisas de intenção de votos em 20 de setembro. "Pesquisa antes do processo é mais recall", afirmou.

O candidato tucano tenta, com as declarações, minimizar o fato de que, após visita a todos Estados e exibição de nove programas eleitorais, quase metade do total, as pesquisas Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus indicarem só uma leve oscilação das intenções de voto em seu favor e apontarem a vitória de Lula no primeiro turno.

De tarde, na Lagoa do Taquaral, bairro de classe média alta de Campinas, disse que o uso da máquina pública era "um retrocesso", referindo-se ao fato de que, na véspera, Lula permitiu que crianças beneficiadas por programas federais subissem ao seu palanque. Acusou também o governo de possuir "um viés autoritário".

Em suas críticas, Alckmin atacou os escândalos de corrupção envolvendo o governo Lula, mas evitou responder sobre as suspeitas de envolvimento do senador tucano Antero Paes de Barros (MT) no esquema da máfia das sanguessugas. "Apresentar emenda não tem problema. Uma coisa é emenda, outra coisa é corrupção. Cabe a ele (Antero) explicar", tergiversou.

O candidato procurou atacar o governo federal em todas oportunidades. Durante campanha em Sorocaba, quando questionado pela aposentada Rose da Silva sobre suas propostas para os aposentados, Alckmin disse que o governo só age em função da eleição.

Ele criticou a gestão do presidente Lula e a "falta de controle do dinheiro público". "O problema é que não é governo que paga as conseqüências. É o povo", afirmou. "Não acredito que quem não fez em quatro anos as reformas que o Brasil precisa vá fazer no próximo mandato. Não vai. Reeleição é um pouquinho mais do mesmo. Não muda nada. Pode piorar, porque não tem mais maioria (no Congresso), não tem mais o sonho".

O candidato tucano reforçou o discurso de que o país tem de crescer. "O Brasil não pode ficar parado, perdendo tempo. Lula vai dizendo que o Brasil não tem pressa, mas isso é para ele, que fica passeando de 'Aerolula'."

O tom mais agressivo de Alckmin seguiu o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois de aconselhar os tucanos a colocar "fogo no palheiro" da disputa eleitoral, FHC criticou ontem, em artigo publicado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", a "flexibilidade moral" do presidente e de intelectuais que o apóiam. "Estamos assistindo ao desdobramento da marcha da insensatez, recuando no tempo", disse. Para ele, o país está indo ao "caminho oposto à democracia, na troca de favores (...), na confusão entre público e privado e no patrimonialismo moderno que resulta em sanguessugas e mensaleiros". "Isto tudo sob as vistas cínicas e prenhes de bonomia do Grande Padrinho, que, acima do bem e do mal, preside não o Brasil, mas a 'República da Malandragem'."