Título: Boa rentabilidade é atrativo a mais nos fundos socialmente corretos
Autor: Cintra, Luiz Antonio
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2006, Caderno Especial, p. F2

Lançado no dia 3 de janeiro, o Fundo HSBC Sustentabilidade Empresarial, cuja carteira se restringe às ações que fazem parte do ISE, acumulava em 29 de agosto uma valorização no ano nada desprezível: 15,3%, três pontos percentuais acima do próprio ISE, que funciona como "benchmark", ou 5 pontos à frente da valorização do Ibovespa no mesmo período.

Com históricos como esse, acreditam profissionais do mercado de capitais, aos poucos os fundos com preocupações sociais e ambientais conseguirão vencer o apetite do investidor, em geral acomodado na renda fixa e pouco afeito ao mercado de renda variável, que representa menos de 10% do total aplicado em fundos de investimentos do sistema financeiro nacional.

Para ganhar em rentabilidade, a estratégia do HSBC incluiu uma dose a mais de flexibilidade. "A carteira do nosso fundo é composta apenas pelas ações que fazem parte do ISE, porém nos preocupamos em manter uma postura ativa, alterando as proporções, de modo a conseguir uma performance melhor", afirma Leonardo Calixto, executivo-sênior de produtos do HSBC.

Com um patrimônio de R$ 21 milhões no final de agosto, o fundo do HSBC exige uma aplicação mínima de R$ 1 mil e cobra uma taxa de administração de 2,5%. Para crescer, conta com a disseminação, lenta é verdade, do conceito de sustentabilidade empresarial, ainda distante do repertório do investidor tradicional. "Acreditamos que exista espaço para crescer, inclusive porque existem estudos no exterior que demonstram haver uma correlação entre performance e aspectos como governança corporativa e respeito ao meio ambiente", avalia Calixto.

Nessa mesma linha, o Itaú criou em fevereiro de 2004 o Fundo Itaú Excelência Social, atualmente com um universo de 44 empresas com condições de fazer parte de seu patrimônio. "Olhamos como fundos norte-americanos semelhantes foram criados, e optamos por levar em conta três quesitos: governança, meio ambiente e práticas sociais para escolher as empresas", afirma Walter Mendes, superintendente de renda variável do Banco Itaú.

Além de privilegiar empresas "socialmente corretas", o fundo do Itaú também distribui metade do valor arrecadado com a taxa de administração do fundo para projetos sociais, a partir da avaliação de entidades como o Instituto Ayrton Senna e o Instituto Ethos, que fazem parte do conselho consultivo do fundo. Em novembro de 2005, o fundo distribuiu cerca de R$ 60 mil - neste ano, distribuirá R$ 1,2 milhão para 10 projetos, já que o patrimônio é atualmente superior a R$ 223 milhões. Com um investimento mínimo de R$ 500,00 e taxa de administração de 3% para pessoas físicas, o fundo do Itaú acumulou valorização de 14,7% no ano até o dia 29 de agosto.

Como a concorrência, o Itaú também teve de enfrentar a "falta de cultura" do investidor brasileiro quando se trata de levar em conta aspectos como respeito ao meio ambiente e um relacionamento adequado com a vizinhança. "Aos poucos as coisas estão mudando, mesmo porque essa é uma preocupação crescente de toda a sociedade", afirma Mendes. Com um investimento mínimo de R$ 500,00 e taxa de administração de 3% para pessoas físicas, o fundo do Itaú acumulou valorização de 14,7% no ano até o dia 29 de agosto.

Pioneiro no mercado brasileiro entre os fundos socialmente responsáveis, o ABN Amro Ethical também conta com uma carteira criada pelo próprio banco. "O Ethical foi muito bem recebido pelo mercado. Aos poucos, o investidor percebe que uma postura correta das empresas significa também um reconhecimento da marca, bem mais motivação para os funcionários, o que certamente contribuirá para seu desempenho econômico", afirma Pedro Villani, do ABN.

Para que esses fundos cresçam, afirma Villani, os gestores precisarão vencer duas barreiras: a inércia da preferência por renda fixa e o preconceito de quem relaciona responsabilidade social à filantropia. (L.A.C.)